CRÔNICA OU DESABAFO?
Ontem, enquanto participava do ultimo conselho de classe, em uma das escolas em que trabalho, estava observando as discussões de alguns professores sobre a vida particular de alguns alunos:
- Ela nem é mais moça! – disse uma professora.
- Oh, ela mora com a avó e a velhinha disse que não tá dando conta: desobediente, foge à noite e sabe Deus para onde vai, e só retorna de manhãzinha. E na sala não faz nada, só conversar e atrapalhar a aula. – argumentou outra professora.
- Vamos passar ela ou não vamos pessoal? – perguntou a pedagoga interrompendo a calorosa discussão.
- É, vamos decidir logo, já tem uma hora que estamos aqui e não saímos da primeira turma! Pelo amor de Deus, vamos falar do que interessa aqui – esbravejou uma professora que mostrava impaciência até então.
Em suma decidiram não passa a dita aluna. Bom, na verdade quem se reprovou foi ela própria. Pensem comigo: A somatória do trimestre é de 30 pontos. Se o aluno é esperto, ele mantém o caderno atualizado (só ai ele garante oito pontos mais dois de “auto-avaliação”), fecha a primeira prova (que vale cinco pontos, é discursiva e de consulta) então ele só vai precisar de mais três pontos para passar, já que a média do trimestre é 18 pontos, o que ele consegue numa boa na segunda prova (que vale dez pontos e é objetiva, embora tenha algumas questões subjetivas). E se ele não conseguir tem a recuperação trimestral, às vezes ele só copia a prova “objetiva”, acerta os erros e pronto: já conquistou o trimestre. Se de tudo ele não conseguir nota, tem ainda a recuperação final, que ocorre no final do ano e, se o animalzinho de orelha ainda não conseguir, tem o conselho composto por mãezonas, que dão pulinhos de alegria quando consegue passar alguns “pestes”, ou “bênçãos” (como dizem alguns (as) professores).
- Ai que gostoso. Vocês não sabem a alegria que sinto quanto conseguimos passar alguns no “conselho” –afirmou quem ignorei procurar no meio dos professores.
Ai. Que monstros estão construindo: alunos descompromissados, faltosos (retirarão as faltas se preciso, exceto se já as tiverem informado ao Bolsa Esmola (ou outro nome, que não me lembro agora), para passarem o dito para a série seguinte, e na seguinte, e na seguinte, e na seguinte até que...
- Graças a Deus, ele (a) vai embora. Não precisamos discutir sobre ele (a).
Reflexo, ou resultado disso: uma corja de vagabundos dirigindo e legislando o país. Após algumas notícias saem os lamentos:
- Como podem, votaram o aumento do próprio salário em mais de 60 por cento... blablablablablabla.
- Eleger aquele analfabeto com mais de um milhão de votos é para mostrar como o povo está revoltado com a política brasileira, querendo, com isso, dizer que a política está uma palhaçada.
MENTIRA! MENTIRA! MENTIRA! É pra mostrar como se está formando pensadores, alunos/cidadãos críticos.
Em um dos filmes da trilogia Bourne, quando ele, o protagonista, está na mira de um assassino de seu calibre e membro da companhia da qual era membro e tornou-se fugitivo, sendo indagado o porquê de não tê-lo matado quando estava no lado oposto ele respondeu:
- Apenas pensei.
E é exatamente isso que falta na educação, nos professores, nos alunos, nos políticos, no Brasil: pensar.
Comece por você: PENSE.
Mas não pense o porquê você perdeu seu tempo lendo este texto. Para não se decepcionar. Se você parou para ler e agora pensar, por favor, pense mais, viva uma vida, não de pensamento, mas de profunda reflexão sobre todas as decisões que você tomará.
A propósito, pensando bem, só publiquei este texto no gênero “crônica”, por não encontrar um tipo “nostalgia”, “verborragia”, ou ainda, em ultimo caso, “desabafo”.