Então é Natal (?)

Então é natal (Nascimento de Cristo? Ahn? Como assim?)

E o que você fez? (Possuo imensos planos para o futuro...)

O ano termina e nasce outra vez. (Isso. Esqueçamos o passado. Homem contemporâneo e futuro são quase sinônimos)

A sociedade ocidental, em período natalino, é acometida por um misterioso sentimento de solidariedade e compaixão. Pessoas de classe abastada fazem generosas doações a entidades filantrópicas, assinam milionários cheques. Pessoas de classe média alta doam alimentos, roupas ou, às vezes, chegam até a sacrificar parte de sua renda. Tudo por uma grande – imensa, gigantesca – causa. Atitudes louváveis? Claro. Sem sombra de dúvidas.

O homem generoso, em seu luxo e ostentação, sente uma avassaladora necessidade de ajudar o próximo. Afinal, como todo bom cristão, ele deve obedecer aos mandamentos de Deus (pelo menos um deles). Sacrifica seu dinheiro (e até seu corriqueiro tempo!) em prol dos menos afortunados. Seu grande ato é digno de glória e exaltação. É digno de todos os holofotes e público possíveis. Afinal, o homem vive de aparências. De que adianta realizar um grande e generoso feito, se não ele for divulgado aos quatro ventos? Exibido em todos os meios de comunicação possíveis? (De preferência em letras garrafais e luminescentes)

Para o homem generoso, a satisfação dos receptores não é suficiente. Ele precisa de sempre mais. Chama a imprensa. Aproveita a situação para divulgar – em letras colossais – o slogan de seus produtos. Afinal, que mal há nisso? Já que estamos todos aqui, não custa nada fazer um pequeno “merchan”. O homem generoso, não satisfeito com seus atos filantrópicos (ou quem sabe até divinos), faz questão de tirar fotos com seus pupilos; pega crianças (de preferência negras e mal arrumadas) no colo, beijando-as e abraçando-as em atos sinceros de fraternidade. Quem seria capaz de duvidar da franqueza de tais atitudes? Basta olhar fixamente para o homem generoso. O brilho esplendoroso em seus olhos denuncia uma filantropia fidedigna.

Por que este homem afortunado não estende sua divina generosidade aos demais meses do ano? Não, não. Aliás, quem sabe. Em julho, lançarei uma nova marca de roupas de verão. Ou quem sabe até em outubro. Lançarei uma nova linha de brinquedos. É sempre mais fácil manipular os sentimentos alheios agradando crianças paupérrimas.

Após toda essa explanação, conclui-se que é de homens generosos que o mundo necessita. Em especial, na época natalina. Afinal, a bondade e a generosidade são intrínsecas ao ser humano. Elas apenas repousam latentes. O Natal simplesmente possui o incrível poder de despertá-las.

Autor: Elvis Gomes Marques Filho

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Elvis Filho
Enviado por Elvis Filho em 24/12/2010
Reeditado em 24/12/2010
Código do texto: T2688797
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