Hipocrisia no presépio de Deus.
A mulher emite um grito de silêncio na tão barulhenta cidade de São Paulo. Ela é uma pobre mendiga, que esta deitada à beira de um viaduto prestes a dar a luz. Outro grito ecoa mais não passa apenas de mais um no meio de muitos.
O homem que esta ao seu lado também mendigo tenta acalmar a sua mulher, e se sentido invalido por não poder fazer nada, ele finge não se desesperar para criar um clima de paz, naquilo que é tão sério.
Você poderá dizer: mais um miserável no mundo, um novo projeto de traficante que acaba de sair novinho de forno. Que sociedade hipócrita esta que vivemos, enquanto a inocência grita debaixo do viaduto, uns grupos de 5 plays boys dão cavalo de pau no carro, e se embebedam.
A mãe apressada passa com as compras, pois certamente esta atrasada para fazer a janta para o marido e descansar no seu aconchegante sofá. – Pelo amor de Deus! Grita o homem em desespero. Aliás, se bem me recordo do meu catecismo hoje é ante véspera de natal.
Um presépio montado em pleno palco dos horrores, enquanto Maria tenta dar a luz ao menino, o povo lá fora fecha as hospedarias e ela acaba debaixo do viaduto, contando apenas com José, seu fiel marido.
Ela suspira, parece não agüentar mais de tanta dor, o marido vendo que seu desespero é em vão ajuda a mulher no trabalho de parto, assim como na época do nascimento de Cristo; José e Maria unidos para trazer aquele que iria salvar a humanidade.
E se esse menino que hoje nasce debaixo do viaduto fosse o Salvador da humanidade, é assim que você o receberia, com tanta hipocrisia. Talvez este que hoje nasce pode ser o médico do futuro que te levará a cura dos transtornos oncológicos.
Mais um grito é dado, agora de felicidade, pois o sofrimento acabou a mãe contempla nos braços a sua tão perfeita criação. Olha para o céu e roga a Deus para que pelo menos por hoje ele possa ter um lugar seguro para dormir, e esse pedido perdurará por toda a sua vida, pois amor de mãe é eterno. Amor de mãe, amor de Maria.
Os carros passam, a cidade continua a sua rotina. O menino Deus nasceu na manjedoura e as pessoas estão nos bares bebendo e aproveitando o feriado. A hipocrisia vai se aumentando, as graças se distanciando. E fico a observar o menino Deus a dormir ao longe.
José Luís Rezende de Villa