LITERATURA E MODISMOS
O ENCANTO
O encantador de serpentes encanta também quem o observa...
(Vanice Ferreira)
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Os modismos na literatura são consequência de muitos fatores, dentre eles o momento histórico em que o autor se manifesta. Vivemos um tempo em que as mudanças acontecem de forma avassaladora e meteórica.
Ainda que existam os chamados monopólios que fazem da arte em geral artigo de consumo cuja qualidade deixa muito a desejar, existe uma grande ebulição acontecendo à parte da mídia, aonde escritores, músicos , pintores, artistas em geral, têm oportunidade de pôr à mostra o seu trabalho, agindo diretamente com o público em redutos específicos, tudo facilitado por recursos de comunicação cada vez mais eficientes e o maior deles sem dúvida é a internet.
Neste cenário de contatos cada vez mais abrangentes e rápidos, ela surge como o grande veículo que consolida este novo modus vivendi e que oportuniza democraticamente a todos a visibilidade e participação com o mundo de forma incrivelmente simples e direta. Sendo assim, publicar na internet pode ser visto como um milagre para quem nasceu em um mundo de algumas décadas atrás, aonde muito poucos eleitos tinham oportunidade de publicar qualquer coisa. Sem falar que, como comentei com um poeta deste site, ainda temos a vantagem de ler o escritor e ao mesmo tempo conviver com ele se assim desejarmos, ler seus recados, enfim, um contato dos mais completos que desmistifica aquela imagem de escritor como um ser acima e distante de nós, pobres mortais embasbacados. Neste novo cenário virtual há bibliotecas à disposição, tudo que desejarmos ler pode ser encontrado. E me chama a atenção atualmente um novo modismo que se espalha entre os escritores virtuais: o conto minimalista.
Os chamados contos minimalistas parecem ser mais um fenômeno do mundo virtual e do momento histórico que vivemos aonde parece que cada vez mais as pessoas tem pressa e pressa pra chegar aonde? Acho que na maioria das vezes só pressa mesmo, sem saber direito para que.
Ao ler um desses textos-frase, fico sempre um tanto suspensa, como quem freia o carro repentinamente no bom da viagem, fico assim meio perplexa até entender o que aconteceu. É um estilo bem ao gosto de quem tem pouco tempo e lê na telinha, é o que dizem os que tentam justificar esta forma de fazer literário. Particularmente eu não gosto de ler minimalistas porque numa tão estreita síntese, chegando muitas vezes a uma só frase, não acontece o processo da leitura prorpiamente dito. Porque também não há ali o processo da escrita propriamente dito. A frase-conto que eu leio numa passada de olhos cai dentro de mim como um pequeno volume no abismo das minha interioridade e assim nesta queda instantânea preciso primeiro me refazer do choque de algo tão compacto e sintético, engolido assim à queima-roupa. Em seguida, estando o volume acomodado no fundo de minha intimidade, o processo propriamente dito de assimilação começa, mas é algo totalmente particular, solitário, como uma pílula sendo diluída no estômago lentamente, após a rápida ingestão. Solitário no sentido de que não vou ter a presença de nuances do escritor, não vou saborear pequenos indícios do momento literário do escritor, não vou perceber aquele instante em que ele, após caminhar comigo e me surpreender com alguma imagem impactante ou suave, atinge um ponto de grande intensidade poética, o que ocorre em um conto mais elaborado. Um conto desenvolvido, mesmo os chamados microcontos, já permite a interação do leitor com o poeta, uma decodificação em convívio mais demorado, que pra mim é essencial na troca que sempre deve existir entre quem escreveu e quem lê.
Sem falar no risco que é alguém se aventurar a fazer tais sínteses, o que naturalmente exigirá do escritor uma grande capacidade e talento e infelizmente aí reside uma grande cilada, qual seja a de julgar fácil o que decididamente é muito complexo.
O texto que ilustra esta página é de uma escritora talentosa, daí sua beleza e grande impacto. Mas como eu disse pra ela, acho que ela escreve muito bem à moda antiga. E já dizia um grande pintor, cujo nome me foge, que primeiro é preciso pintar algo aonde ele realmente comprove seu talento, ou seja, um quadro que exija dele muito empenho e capacidade e somente depois disso e só bem depois, partir para pintar o seu chamado "abstrato".
Na verdade os modismos não são o problema, eles sempre existiram, a forma de produzir arte se reveste de estilos variados. O problema é pintar primeiro o quadro "abstrato"...
Mas longe de mim estar aqui com ranços e patrulhas nesta minha colocação. A liberdade de expressão paira acima de tudo e eu a respeito. Só não sou obrigada a concordar com tudo que aparece por aí.