Deusa de Narciso

Era um batom cintilante, a cor escolhida trazia intenções ocultas da provocação sensual feminina que mesmo quando despretensiosa tem o talento natural de ter o que deseja.

Estampava o sorriso gracioso da maldade, singelo e maligno expressava o desejo satisfeito e um trabalho bem feito, caminhava pelo calçamento como se planasse sobre uma passarela com o mundo a observando boquiaberto, tal como rainha aguardando seus súditos se curvarem diante de tamanho esplendor.

Seu ego gritava “única”, sem perceber que isso podia não ser um elogio, porém não havia projétil que ferisse seu orgulho, quase que em uma alucinação irreversível digna de hospício, era personagem da vida e escolhera ser deusa.

Deusa de si, escolhendo o padrão de beleza que o espelho lhe havia concedido, aceitando definitivamente um senso comum de beleza, a sua própria.

Inatingível assim como só poderia ser, não soube diferenciar momento de tempo, não era eterna, nem mesmo absoluta, e não poderia existir castigo maior do que a eternidade e ser obrigada à conviver com o seu ego convencido da superioridade suprema, só podendo significar solidão.

Sucumbiu e expirou, experimentando a sua única e ultima companhia, a terra, a qual por fim a comeria.

Dando assim um final digno a tal assunto e importância da beleza em nossas vidas.