Desventuras amorosas - Parte I
Como chegamos aqui? Essa frase estava fixa em minha mente enquanto observava seu meigo sorriso de menina, logo a minha frente. Estávamos tão próximos que se inclinasse meu corpo um só centímetro, tocaria seus lábios suavemente.
“Eu não trouxe nenhum discurso pronto, nada escrito, nada brilhante para falar. Não trago certezas, nem sei também se posso falar sobre elas. Qualquer relacionamento está fadado ao sofrimento. Talvez, o mais certo e adequado casal, estará em prantos ao mesmo tempo em que aqueles menos indicados encontrarão a felicidade”.
Seu olhar persistente passou a fugidio. Seu sorriso tornou-se irrequieto. Tentei tomar-lhe as mãos que foram logo retiradas e escondidas.
“Como chegamos aqui?” A pergunta saiu de forma inesperada, como tantas coisas que vivenciamos em nossas vidas. Ganhei um olhar ameaçador. O burburinho do ambiente parecia ter cessado e todas as atenções estavam voltadas para nós.
“Prometi a mim mesmo não falar sobre meu passado para ninguém mais. Contudo, a experiência trouxe-me mais amarguras e sofrimentos do que alegrias e descanso. E, estou aqui agora, pronto, desnudo, reservando mais espaços revisitados e recondicionados. Sou um pouco do que vivi e do que gostaria de viver ainda”.
Seu olhar por um instante desapareceu de sua face. Porém, o brilho reapareceu. Um momento de reflexão. Positiva ou negativa? O sorriso que se esvaiu, surgiu mais infantil ainda e suas mãos lentamente se aproximaram das minhas.
“Como chegamos aqui?”, sua voz saiu rouca, parecia presa nas profundezas de sua alma...
(continua)