Da saúde e da doença
Voltando de um exame incomodo e constrangedor de rotina feminino, vejo como custa a dignidade pela prevenção. Aparelhos estéreis e frios tateiam as vísceras danificadas pela estupidez natural de cada mês. Eis a divina e ignorante explicação para tal sofrimento: as mulheres de hoje em dia sofrem pelos caprichos de Eva.
Onde está a ciência a nos valer numa hora como esta, nesse meio onde os métodos machistas ainda vigoram? Numa hora dessas, eu gostaria de saber como é ser homem, esse gênero que não sofre e mesmo assim não suporta a dor.
No mesmo instante, absorta em meus pensamentos negativos sobre tal procedimento, eu espero pelo ônibus quando vejo passar em um desses coletivos uma criatura com algum tipo de deficiência física e/ou mental bem ao lado da janela. Sua saliva escorria com o vento e suas feições se retorciam numa espécie de dor demente.
Parei e pensei, com alívio: Sou uma mulher saudável!