Gravidez aos 35

Gosto de ler boas crônicas. Você se envolve com o cronista, sua história, e vai na sua cabeça ligando fatos, acontecimentos. Surgem suas histórias.
São gatilhos para sua criatividade. Não cópias ou mesmo arremedos de criação, mas elaborações, em cima das elaborações de quem escreveu. E quem escreveu não teve um ponto de partida. Creio que a internet está unindo pensamentos, criações, formando conexões.
Mas e as mulheres de 35? Ah! É se deter na questão e até fica mais fácil para explicar essa troca de informações, elaborações e tais... Há uma semana atrás, na crônica de Guará Matos CONFEITARIA COLOMBO E A “BELLE ÉPOQUE” http://afogandooganso.blogspot.com/2010/12/confeitaria-colombo-e-belle-epoque.html, me deliciei com a Confeitaria Colombo, no centro do Rio de Janeiro, com os personagens tão bem descritos por Guará Matos, uma crônica tão rica de histórias e fotos, que vale a pena conferir, como ele tece a trama entre o antes e o agora.
Na crônica de Guará Matos, revi minha vida, quando criança estive com meus pais, na Confeitaria Colombo, estávamos vindo de São Paulo. Escrevo e uma música de carnaval vem na lembrança:
Na porta da Colombo
" Tá sassaricando
Todo mundo leva a vida no arame
Sa, sa, sassaricando a viúva, o brotinho e a madame
O velho na porta da Colombo
É um assombro
Sassaricando...
A música estourou nos carnavais da década de 50, e fez até parte da novela da Globo Sassaricando. A Colombo era o ponto, e a confeitaria famosa por seus lanches e almoço. No Brasil ainda com a influência européia, havia o charmoso Chá das Cinco. À noite a Colombo era invadida pela boemia.
Luiz Antonio autor da marchinha, contava que o termo sassaricar, vinha do nordeste e se aplicava as pessoas que “ficam ciscando em volta, igual galinha no terreiro”.
Um dos mais famosos galanteadores da Colombo foi Olavo Bilac.
Encantado com o centro do Rio antigo, e ainda presente e resistindo me deparei com outra excelente crônica. “De volta para o futuro” de Josì Viana http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2673376, carioca, despachada, com verve e humor, fala das relações mulher, homem. O seu texto começava... : -”eu ouvi isso em plena rua Uruguaiana...” e conta um “xiste”, um dito, uma provocação, sobre as fases da idade da mulher. Não conto até para não quebrar o encanto quando você for ler.
Tudo isso faz parte galanteria de rua, paquera ou azaração. E o Rio é o local onde o amor anda solto e livre.
Tudo bem, mas onde está o meu start, o gatilho?
Muito Rio de Janeiro, para um paulistano. Minha primeira paixão foi uma carioca.
Destemida, apaixonada, forte, de riso aberto e solto. Todas essas crônicas fizeram histórias dela vir à tona.
Com 35 anos engravidou, ficou com vergonha. Seus outros filhos já crescidos, e ela grávida?
O que hoje é quase norma, a mulher pensar em ter filhos aos 30 anos, antes uma mulher de trinta já era quase uma idosa. Tanta coisa mudou.
Lembro-me que aos 45 anos, ela ainda ouvia elogios na rua. Eu ao seu lado morria de ciúmes.
Aos 47 anos, tornou-se encantada, como Graciliano Ramos falava.
Meu peito bate forte quando penso nela, estaria fazendo 100 anos.
Uma carioca, minha mãe.