Roberto manda notícias
ROBERTO MANDA NOTÍCIAS
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 22.12.10)
Em verdade, quem mandou notícias do Roberto foram os gêmeos de Videira. Ficcionista tem desses vícios de profissão: sempre distorce, muda, altera, "melhora" algo na realidade para tentar dar algum sentido e levar algum interesse ao que escreve. Assim, anuncia em letras grandes que Roberto mandou notícias para, em seguida, dizer que os arautos foram Claudinei e Claudionor.
Os dois irmãos só não são siameses: idênticos em tudo, desde o físico até o intelectual, desde o mental até o espiritual, estão sempre juntos. Quando conversam, cada qual invariavelmente diz a metade da frase, deixando ao outro que a complete. E o complemento de um é sempre o que o outro estava mesmo querendo dizer. Usam o artifício, que já passou a integrar suas personalidades, mesmo quando conversam entre si, o que não param de fazer. Para eles, é curioso ver as pessoas falarem frases inteiras, completas e acabadas. Parece-lhes, este, um expediente estranho de quem talvez se sinta muito solitário, sem alguém que lhe complete o pensamento e a vida.
Às vezes, de brincadeira, eles se apresentam a novos vizinhos como Claudionei e Claudinor. Fazem isso só para se divertirem um pouco, confundindo as pessoas e dificultando-lhes a identificação de qual deles não é o outro.
Pois os gêmeos da bela cidade de ladeiras íngremes mandam dizer que Roberto é um frequentador assíduo da biblioteca municipal de Videira, no Meio-Oeste catarinense, da qual faz de um livro um dos mais retirados do acervo. Aliás, esclarece Claudinei, Roberto é a única pessoa que pede o livro..., e completa Claudionor: "Rádio Digital", que nunca ninguém mais quis ler.
Informam mais, os dois: Roberto está copiando a mão o livro todo, por isso que precisa retirá-lo e devolvê-lo, por decurso de prazo, tantas vezes. Por que ele não diz que perdeu o livro, ressarce a biblioteca com outra obra mais procurada pelos leitores e fica de posse definitiva desse seu livro de cabeceira?, insinuam os gêmeos. O fato é que Roberto não perde palestra na cidade, concedendo ao orador uma tolerância de cinco minutos: se ele não for enfático e claro nas palavras, dá-lhe as costas com desdém e vai embora. Do contrário, pega dele um autógrafo ao final da fala, entusiasmado com o desempenho.
Nuves, da biblioteca, é quem decifra o enigma: quando for grande, Roberto quer muito ser locutor de rádio.
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Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior.
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