O sonho de consumo

Quando eu me aproximei foi amor à primeira vista, Lá estava: último modelo, quentinha, direto da fábrica. O sonho de qualquer fotógrafo. Nada escapava ao seu click. Impossível resistir aos seus encantos.

Mas esse era um objeto de consumo de poucos. Não era o meu caso. Desanimado fui embora.

Com o tempo tentei parar de pensar naquele produto…

Não consegui. Pra tudo que eu olhava, ela estava lá: quando eu assistia a um filme ou olhava uma foto de revista, nas conversas com os amigos; esse assunto sempre vinha à tona.

Resolvi fazer hora extra. O empenho no trabalho passou a ser determinado com o rigor de um devoto religioso tentando alcançar o paraíso perdido. De domingo a domingo, todos os meus esforços eram voltados para alcançar o meu sonho de consumo.

De vez em quando, eu aparecia em frente da loja e ficava ali namorando, pensando em como seria quando comprasse aquela belezura! Por um ano eu aparecia na vitrine. Porém, certo dia ela não estava mais lá. Desesperado, perguntei ao vendedor que fim aquele produto teve. O vendedor disse que apenas tirou da parte da frente, pois ainda não tinha achado um comprador. Foi então que pensei que eu seria o felizardo.

Depois de juntar muito dinheiro, chegou o tão sonhado dia. Finalmente eu consegui. A meta foi alcançada. Tirei fotos de diversos lugares e pessoas. Estava feliz. Pensava em um dia trabalhar em alguma agência de modelos, empresa de design, jornal ou algo do tipo.

Uma semana depois ao passar em frente daquela loja, tomei um susto: Um novo modelo, mais compacto, com o dobro das qualidades da minha antiga e obsoleta câmera de fotografar. Eu preciso adquirir aquele produto. Um novo objetivo fora traçado.

Foi então que novamente, comecei a sonhar.