POR MAIS BEIJOS E TULIPAS (BVIW)
Não queria dizer quanto tempo fazia que não passava por ali. Tempo em que o pai era quem dirigia e a mãe beijava-lhe a cabeça com ela espremida entre eles. Era tão feliz pois se sentia a criança mais amada e mais bem protegida.
Estava louca para chegar, mas usava o freio com demasiada freqüência e cautela. Teria coragem algum dia de parar e bater umas fotos? Faziam aquele percurso todo final de semana. A mãe adorava cuidar das tulipas entre outras reformas no sítio herdado dos avós. Este se transformara numa maravilhosa casa campestre onde o pai voltara a morar e onde realizaria a cerimônia do seu casamento decorado por tulipas.
Sua mãe não estaria lá e a culpa era do freio de mão que ela puxara desesperada quando achou que o marido bateria em um carro. Seria em dois dias o casamento. Aquela era a primeira vez que dirigia sozinha por aquela estrada. Passara anos fazendo terapia para finalmente enfrentar o que agora sentia. Precisava inaugurar uma vida nova dentro de si e passar a visitar o pai regularmente. Não poderia mais evitar aquela estrada. Sabia que a mãe se sentiria orgulhosa ao vê-la entre as tulipas.
Levava o pé ao freio nas curvas, mas não frearia a sensação de felicidade plena que era imaginar a mãe ali ao seu lado a beijar-lhe os cabelos. Havia inúmeras viagens sem nada de ruim para lembrar. Felicidade era um princípio destinado a ser traçado até o fim.
Um caminhão lhe cortara em grande velocidade a assustando com a buzina. A mãe sorriu-lhe ajeitando os cabelos. Nada mais ela temia.