Satisfação desenfreada. (BVIW)

Durante muito tempo morei na esquina de baixo, em uma ladeira. Todas as crianças da rua que tinham carrinho de rolimã desciam por lá o dia inteiro, incansavelmente. Muitos já chegavam com seus machucados de véspera enfaixados, pois o freio dos carrinhos era o próprio condutor. Uma tortura!

Tenho pensado sobre o que move o ser humano a se dilacerar em função de uma felicidade de poucos segundos, sem freio, no carrinho e na vida.

Há os que se arriscam em malabarismos sobre uma moto girando no ar, pela felicidade de conseguir o seu intento. Até chegar lá, durante meses, se quebra, se contunde, sofre com as frustrações das primeiras investidas, mas continua em busca dessa felicidade, sem freio, por uma causa maior, na opinião dele. Penso no quanto as mães não sofrem com filhos assim, arrojados e viciados em adrenalina. Conheci uma delas que teve, inclusive, que cuidar do filho durante um ano acamado e sem voz por ter batido a garganta na queda. Ano e meio depois, ainda sem voz, estava montado em sua moto treinando novas piruetas. Ele nunca soube usar o freio do bom senso, embora fosse um ás naquilo que fazia.

Indaguei dessa mãe como aquilo começou. Foi ela quem o incentivou, quando adolescente, para vê-lo feliz fazendo o que gostava. Ela acha que os filhos vêm ao mundo para serem felizes e cabe aos pais dar a força que eles precisam. Questão de opinião.

Ana Toledo
Enviado por Ana Toledo em 21/12/2010
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