64. Je me pisse sur les femmes infidéles
Concha, não estou assim tão longe da Galiza como isso, estou na Normandia, o que não sendo bem assim é como quem diz quase aqui ao lado, e vou a Amesterdão ouvir a canção de Jacques Brel.
Concha, quando chegar ao porto de Amesterdão, vou dar este título à minha crónica: ‘Ils [os marinheiros] pissent comme Je pleure sur les femmes infidèles.’
Lá, o ideal seria no próprio porto, vou querer ouvir à viva força ‘Amsterdam.’ Quero ouvi-la do princípio ao fim e do fim para o princípio, uma, duas, vezes sem fim, mas, se porventura, não encontrar por lá quem a cante de viva voz, não sei se haverá quem a cante por lá, é provável que haja, vou ouvi-la mo meu MP-4.
De qualquer modo, de viva voz ou apenas no MP-4, vou saborear cada letra, cada sílaba, cada estrofe.
Não vou cantá-la porque não tenho voz para tal, mas vou dize-la porque a conheço de cor desde os tempos em que a ouvi por aqui e fiquei logo apaixonado pela sua intensidade absoluta. E verdade gritada.
E, se não houver quem a cante ou se o meu MP-4 se avariar, com voz de cana rachada ou não, não hesitarei em cantá-la só para mim.
Mas, talvez, só no porto de Amesterdão consiga atingir a perfeita e primordial magia da canção de Brel.
E, depois, depois de ouvi-la vezes e vezes, penso dizer a mim mesmo: para chegares onde queres, só te falta subir ao pico. E pouco mais.
PS1: Hoje é já o dia que disse ontem, dia 21.
Jacques, foi um cabo de trabalhos para chegar ao porto de Amesterdão, nem sei bem se lá cheguei, não ouvi ninguém cantar a tua canção, rapei da folha que imprimi com a letra de Amesterdão, apesar de a conhecer de cor não queria falhar, tem umas partes complicadas, e cantei em voz baixa, uma, duas, três vezes.
Só que, devo dizer que quando a ouvia outrora concordava com a tua letra, mas já não concordo mais contigo agora: ‘Je ne pleure pas sur les femmes infidéles comme toi, je me pisse sur les femmes indidéles. Et je m’en foue!!’
PS2: Hoje é 23: Jacques Brel, não gosto de fazer silêncios, para não ter de dizer nada, dizer meias-verdades ou, pior, mentir, odeio isso tudo, tinha a consciência pesada, regressei antes de partir de Amesterdão novamente ao porto, e, mesmo que não se publique o que escrevo, devo confessar que não cantarolei a tua canção. Não, quando aqui cheguei, gritei: ‘Je pisse sur toutes les femmes infidéles!!’
Cumpri, como sempre, o que disse: literalmente.
Mário Moura
Neaufles, 20 de Julho de 2010