INÊS
Não é importante saber quem sou eu. Nem tão pouco importa saber quem fui, pois já não adianta...
Isso me faz lembrar uma passagem daquele que foi tido como “O Cruel”:
“Mesmo que vós a reverenciem... Agora é tarde, Inês é morta.”
Ironicamente hoje não choro pela morte de Inês, e sim, comemoro o seu nascimento ressurgida como Fênix dos restos mortais de Cinara que pereceu e hoje aqui enterro, rendendo-me então as evidencias, a realidade e a vida.
Cinara foi um ser de sins e permissões, de crença. Inés é um ser de nãos, de respeito. Que não se abstêm de crer, porém, o faz com ressalvas e muita cautela.
Cinara creu por toda a sua existência na natureza bondosa do ser humano, acreditando serem os maus uma exceção de tal natureza. Já eu, Inês, aprendi com as experiencias de minha antecessora, que o ser humano é de natureza perversa. E que são justamente os bons, a evolução moral dessa natureza, que são a exceção.
Acredito no triunfo do bem sobre o mal, na possibilidade de evolução moral das pessoas, na amizade e no amor... Apenas não conto com exceções, nem vivo a buscar por elas. Faço o que me cabe e deixo que surjam a seu tempo, para que então eu possa abraçá-las e não antes.
Não creio isoladamente em palavras doces, elogiosas ou não. Creio sim, nas atitudes condizentes com as palavras. O acredito no melhor que se pode ser feito, mas não na perfeição. Pois sei que não existe e que tudo que se apresenta como perfeito é mera ilusão. Não compro perfeição para não correr o risco de ser enganada. Mas abraço com cartinho e cuidado o melhor de ti que me for oferecido.
Esta sou eu, Inês. A mulher que habita em meu ser e que a partir de agora assina meus textos.
INÊS