Saxofone comunista
Saxofonista de Itabaiana foi demitido da TV por ser comunista
Não foi o primeiro a sofrer represálias por causa da ideologia. Sua conterrânea Leonilla Almeida foi expulsa de casa, depois presa e torturada por ser comunista. E ele, o grande artista Ratinho, foi demitido da TV Tupi em 1964, acusado de ser amigo de Luiz Carlos Prestes, líder comunista.
Severino Rangel, o Ratinho, desde criança tocava na banda de música de Itabaiana. Seu saxofone era muito maior do que sua cidade acanhada. O instrumento de Ratinho ganhou o mundo feito a sanfona de Sivuca. Aprendeu a ler com os textos secretos dos anarquistas nas oficinas de sapato de Campo Grande. Desde cedo observou a luta de classe na beira do rio, na feira de gado, na empáfia dos coronéis, na estupidez das vidas severinas que se matavam botando água de ganho, arrancando toco, carregando fardos pela vida afora. Ele mesmo era um Severino, igual a Severino Sivuca e Severino Zé da Luz.
Severino Rangel de Carvalho, Ratinho, adotou a música como amparo de vida e tornou-se profissional. Em 1914, mudou-se para a capital pernambucana e, no ano seguinte, tocava oboé na Orquestra Sinfônica local. Tocava também trompete e saxofone e deu aulas de música na Escola de Aprendizes do Recife. Desdobrou-se em notas musicais, tornou-se compositor, com anseios de virar artista de rádio. E virou.
Assim registra o Google:
“Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho da dupla Jararaca e Ratinho, marco na era do rádio brasileiro, artista genial da histórica dupla Jararaca e Ratinho, era um grande compositor de choro e instrumentista versátil. Na era do rádio, a dupla atingiu o auge na Mayrink Veiga - 1939 - e na Rádio Nacional , no período de 1940 a 1964, alcançando índices de audiência que chegavam a 70% . Na televisão , estrearam em 1951, no programa A-E-I-O- URCA, na tv Tupi. Em 1964 , por motivos políticos, Ratinho foi demitido, o que inviabilizou a sequência da dupla. O motivo da demissão era a sua amizade com Luís Carlos Prestes. Com o falecimento de Ratinho em 1972, pobre e quase exilado dentro do Brasil, Jararaca ficou sem o encantamento de antes. A dupla estava fadada ao ostracismo.”
Mais um crime perpetrado pelos gorilas fardados: acabaram com a dupla Jararaca e Ratinho, sufocaram a arte pela perseguição odiosa.
A vida de Ratinho daria um excelente documentário assinado pelo seu conterrâneo Vladimir Carvalho, outro artista genial.
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