Com quem será nosso último encontro?
Com frequência, meu coração amanhece exalando um intenso desejo de encontrar um lugar tranquilo onde eu possa olhar para o céu, o mar e ficar interagindo com a natureza. Minha alma me traz à lembrança um local que considero exótico e belo desde criança: A Ponte Metálica, conhecida como a Ponte dos Ingleses, na Praia de Iracema .Ela é especial. Desde pequenininho eu a visitava em sua solidão, de manhãzinha, quando os banhistas ainda não tinham chegado para tirar o sossego da ponte, da praia e do mar. Em minha última visita, numa tímida manhã de dezembro, fiquei cara a cara com o mar,desta vez de uma forma mais grave e reflexiva. Sentei-me sobre a gélida areia, ainda intocada àquela hora da manhã. Olhei o horizonte, lá longe, quantos mistérios... Como eu gostaria de desvendá-los! As ondas beijavam suavemente a areia acariciando-a ternamente. Sob a ação de todo aquele ambiente deslumbrante, pensamentos novos tomaram de conta da mente da minha alma. Pensei no último encontro de nossas vidas. Com quem será?Seria com o precioso Amor com o qual sempre sonhamos e nunca o alcançamos? Não,infelizmente não é. É com algo que sempre nos traz medo e incertezas,porque sabemos que não estamos preparados para realizar esse último encontro. Um Mestre que se vestia e vivia com simplicidade e que só falava verdades, fez esta tensa afirmação:“De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"
Conclui-se que tudo aquilo pelo qual lutamos a vida toda como sucesso profissional, reconhecimento, graduação, poder, riquezas ,prestígio e outras tantas coisas que julgamos indispensáveis ficam restritas ao mundo temporal, físico. Se comparadas aquilo que está após a fronteira da vida física,não tem quase nenhum valor.Pode-se ganhar tudo aqui e não se ter nada lá. Vida de qualidade após a fronteira da morte física requer “ensinamentos” do Céu,aqui na Terra,antes que realizemos aqui,também, nosso último encontro. Caso consigamos driblar todos os riscos de morte por que passamos diariamente,poderemos, caso tenhamos saúde física e mental chegar aos oitenta anos ou um pouquinho mais,se tivermos sorte. Convenhamos,é muito pouco tempo.Tudo fica mais grave quando percebemos que o último encontro não é marcado por nós e que não podemos modificar a rota desse encontro inevitável. Bem que eu gostaria de ser eterno por aqui mesmo, neste sofrido e pequenino planetinha azul, como o céu e o mar que meus olhos agora perscrutam, mas não posso. Ninguém pode. Só há uma saída: investir, aqui mesmo na Terra, na vida após a morte, assim, o último encontro de nossa vida deixará de ser medonho e doloroso.
Ouço gritos. Já passam das oito. Os banhistas começam a chegar, quebrando o silêncio do lugar. O sol já “está alto”. Imerso em meus pensamentos em nem houvera percebido a chegada dele,com seus raios quentes e poderosos.
Antes do meu último encontro com a indesejável Morte física,que não sei quando ocorrerá, preciso marcar outros encontros com a natureza. Preciso aproveitar o curto espaço de tempo que tenho por aqui, naTerra, pois a visitamos apenas uma vez. E por pouco tempo.
Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues
Esta obra está registrada e licenciada.