Despedida vitoriosa
Hoje, enquanto caminhava pelo calçadão da praia, observei um senhor com as calças altas, com os cabelos esvoaçado pelo vento, tipo algodão doce esgarçado por criança. Possuía pra lá de 75 anos, olhava hipnotizado para o mar em profunda contemplação, tentando guardar em sua mente aqueles momentos como quem escreve algo maravilhoso, e reconhecendo a grandeza de sua obra procura resguarda-la imediatamente, evitando acidentes que possam danifica-la.
O seu semblante emitia uma impressão nostálgica de quem se despedia da vida, e como a bola de cristal revela o futuro ao globo ocular da vidente, ele também revelava as minhas vistas a satisfação de ter conseguido chegar até ali.
Mergulhado em profundas reflexões a tonalidade de sua pele pedia para ficar mais um pouco como o clássico “mais um” ao término do show de rock.
Ele parecia recordar sua história e sabia que máquinas fotográficas ou filmadoras, por maior tecnologia que possuíssem jamais seriam capazes de ser útil nos saudosos dias em que ele estivesse ausente, ele queria era sentir mais uma vez o frescor do vento em sua face, o cheiro da maresia, ver as ondas quebrarem fazendo nesgas de espumas e essas imagens ele queria gravá-las nos arquivos infindáveis da mente.
Ele parecia estar contente com o patamar que alcançou em sua jornada, parecia maduro, germinava em sue intimo planta benigna que quase foi sufocada por espessa camada de erva daninha que a envolveu, que com muita calma, paciência e perseverança foram sendo cortadas cautelosamente para que a belíssima planta que se misturava com a praga mostrasse toda sua beleza. Era o desarmador de bombas cauteloso para não cortar o fio errado.
Parecia estar em comunhão com o juiz que pulsava em sua caixa craniana e essa sensação o imantava com as energias benfazejas do dever cumprido.
Instantes depois ele desmoronou como boneco inanimado, as pessoas se aglomeraram em volta de sua carne, um homem verificava seus sinais vitais, em seguida pronunciou com a voz algemada.
- ele morreu!
O burburinho tomou conta da pequena multidão, enquanto eu, confiante na análise que fazia a pouco do agora defunto, pronunciei mentalmente as seguintes palavras.
- parabéns pelo sucesso na missão, por me mostrar que é possível se vencer e alcançar a satisfação pessoal. Que nosso criador o ampare nesse parto de retorno a verdadeira pátria.