Sorte para quem?
“Cheguei com sorte”. Esta foi a frase mais marcante deixada, ao visitar pela primeira vez o Congresso Nacional, pelo deputado mais votado do país, um fenômeno das urnas como bem noticiaram os veículos de comunicação. De quem estou falando? Deputado Francisco Everardo Oliveira Silva, ou simplesmente, Tiririca. Nada contra os bons ventos soprarem em direção ao nosso ilustre deputado, porém, essa sorte vem acompanhada de um aumento de 60% para os parlamentares do nosso país. Sorte deputado? Sorte para quem? Sem dúvida não foram para aqueles que recebem salário mínimo e terão seus salários reajustados em no máximo 10% em 2011. E já que esses são maioria em nossa pátria amada, presumo que a fala do deputado Francisco Everardo tenha sido no mínimo infeliz, isso para usar um eufemismo menos agressivo.
Não estou aqui condenando os 10% porque compreendo que esse reajuste obedece à Lei de Diretrizes Orçamentárias, que envolvem índices de acumulo da inflação dos últimos 12 meses anteriores ao aumento, de acordo com o INPC e o acumulo do PIB do ano anterior ao que se calcula o reajuste. Minha inquietação é a respeito dos 60%, que, aliás, elevará o salário desses sortudos de R$ 16,5 mil para cerca de R$ 27 mil. Pois é, que sorte hein? E tem explicação? Bom, sorte é sorte, não é? Alguém precisa dar explicações quando ganha na loteria ou quando encontra um envelope recheado de notas de R$ 100? Não queridos compatriotas, sorte não exige explicações, embora alguns de nossos representantes parlamentares tenham tentado explicar, afirmando que tais salários não sofriam reajustes havia quatro anos, porém, eles esqueceram de complementar que esse reajuste, diferente do atribuído ao salário mínimo, não obedeceu à Lei de Diretrizes Orçamentárias. Ora, mas essa lei não deveria, como seu próprio nome já nos revela, dar as diretrizes necessárias sobre o orçamento que o país dispõe para seus gastos? Se é assim, me corrijam se eu estiver errada, ela não deveria também orçar os salários dos nossos queridos parlamentares? Fato que não ocorreu, é claro, já que o percentual de aumento, atribuído por eles mesmos aos seus próprios salários, ultrapassaria em quatro vezes o percentual devido, caso estivesse baseado nessa Lei.
Números, cálculos, índices e leis à parte, resta-nos, então, engolir mais esse sapo e só por precaução, a partir de hoje não passar embaixo de escadas, enfeitar a cozinha com cabeças de alho, colocar penas amarelas dentro do travesseiro, prender alfinete dourado dentro da carteira, guardar trevos no bolso, plantar pimenteira no quintal, só não deixe que ela seja vista por um invejoso, porque se a sua pimenteira secar, meu caro amigo, você corre o risco de continuar um azarado pelo resto da vida, se quebrar um espelho então, melhor desistir de pensar em mudanças no seu salário e para o nosso país. Pensando bem, o deputado Francisco Everardo pode ter encontrado a resposta para o sofrimento do povo brasileiro, e para começar a mudar a nossa realidade, povo, sugiro que durante a passagem do ano velho para o ano novo façamos todos alguns rituais, que podem mudar de direção os ventos da sorte: vamos comer uvas, lentilhas, vestir roupas novas, beber champagne... Ih! Acho que vamos continuar azarados!