Então é Natal.
Noite. Pelo agitar das folhas das arvores, imagino fazer bastante frio lá fora. Sentado aqui, em minha confortável poltrona de couro, observo um agitado grupo de adolescentes que , sorrindo, transitam pelas ruas frias e geladas. Minha mente busca compreender qual sería a razão de tamanha alegria, pois o frio deveria apenas entristecer as pessoas com seus gélidos e uivantes ventos gelados.
Em noites de intenso frio, poucas luzes costumam serem acesas; preferem o aconchego de suas camas quentes e suas xícaras de chocolate. Mas hoje, estranhamente, muitas casas parecem iluminadas e diversas pessoas circulam sorridentes pelas ruas.
Por um instante lembro dos anos passados , e a recordações de amigos que já se foram me vem à mente. Pessoas que passaram por minha vida sem que eu, realmente me importasse com elas. Apenas pessoas que me prestavam os mais diversos serviços e eu, gananciosamente , nem sempre as retribuía quanto mereciam e por outras apenas as ignorava.
Por instantes recordações me invadem a alma e eu me lembro de absortos fatos de minha infância; a primeira professora , a primeira namoradinha dos infantis anos.
Começo a me lembrar das tantas festas que deixei de participar por julgar-me muitas vezes superior a elas. Os presentes de pessoas que realmente se importavam comigo que tantas vezes,por educação apenas aceitava sem jamais me dar,muitas vezes sequer o trabalho de abrir aqueles embrulhos. Hoje vejo um grupo de meninos e meninas sorridentes nesta fria noite com coloridos embrulhos nas mãos; parecem trocar entre eles com risos e extremada alegria.
Curioso aproximo-me da janela e ouço-lhes as vozes, os risos, a inebriante alegria que deles exala. Um pequeno garoto ao me ver observando-os se aproxima do vidro da janela e com um simples e singelo sorriso me diz: Feliz Natal!.
E então um rio caudaloso de quentes lágrimas me banha o rosto e só então descubro o precioso tempo que perdi agregando meus sentimentos à tolos e rancorosos conceitos.
Sorrio a ele, um sorriso meio tímido mas profundamente verdadeiro ( minha alma sorri em mim). Então é Natal.