Chuva de verão
Pessoas deslocam-se rapidamente pela avenida central da cidade.
Sinto uma gota d água na cabeça, olho para o céu que já ameaça um temporal.
Estrategicamente me refugio na marquise da loja.
E um grande estrondo cortado por raios anuncia:
- OLHA ELA AÍ GENTE!
A chuva começa fina, gelada.
A multidão apura os passos agitada.
Como se fosse um puxador de samba o ambulante canta:
-Aproveitem! Só hoje!Guarda-chuva e sombrinha para homem e mulher um paga sete e leva dois por dez
Uma grande concentração de estudantes saindo da escola desfila com suas malas na cabeça.
O carrinho de pipoca puxado pelo vendedor dá um brilho especial na avenida.
E a chuva deságua... cada vez mais forte...
Homens, mulheres e crianças num vai e vem ritmado.
Eu do meu cantinho na marquise observo como se fosse comissão julgadora.
Um casal feliz sob um guarda-chuva improvisado roda para proteger a cabeça dando impressão de Mestre sala e Porta bandeira...
E a música continua...
-Guarda-chuva e sombrinha para homem e mulher.
Um por sete e leva dois por dez.
As goteiras nas calhas soam como tamborins...
Seguem o desfile de capas, botas, sombrinhas. encharcadas
e resmungos... Chuva chata, São Pedro está de mau-humor, odeio chuva, meu sapato está uma lancha. QUE CHUVA!
-Guarda chuva e sombrinha para homem e... A voz do ambulante fica cada vez mais longe.
Uma moça de salto escorrega na poça... Ninguém ousa rir.
A situação está se agravando. Já estou completamente prensada
devida à aglomeração de ilhados na marquise...
Vários minutos depois... O tempo vai melhorando...
Começa a dispersão das pessoas dos abrigos.
Tudo volta ao normal...
A chuva vai se esvaindo pelos bueiros na avenida.
De tudo isso uma conclusão:
-E assim caminha a humanidade.