CHEIRO DE CHUVA
As primeiras chuvas começam a cair sobre a terra ressequida do meu Ceará. Como sertanejo, sinto o coração pular de alegria, como se no sertão estivesse. Logo me dou conta de já não estou no sertão. De que não vou poder presenciar o milagre acontecer. Milagre, sim, porque a chuva opera o milagre da transformação de uma terra ressequida em um grande tapete verdejante. Infelizmente, na cidade grande, a chuva traz mais problemas do que soluções. Aqui, para meu desencanto, já não dispomos de espaços verdes onde possamos presenciar esse milagre. Ver a relva nascer é uma experiência única. Como é gostoso sentir o aroma das primeiras flores que se abrem. Sem dúvida, é extraordinário assistir a terra ressequida se transformar em campos verdejantes, da noite para o dia. Nada é mais belo do que ver a nossa caatinga renascer das cinzas. Como no milagre do campo de ossos secos, onde só havia galhos secos, agora já se vê os primeiros sinais de renascimento. É a vida brotando de onde jamais se poderia esperar. Toda a natureza se mobiliza para a grande festa. Até os animais, como que pressentindo a chuva, sugam o ar com sofreguidão. E a passarada, então, pouco a pouco, principia a construção seus ninhos. Nada melhor do que acordar para ouvir a chuva cantar no telhado e correr célere para saciar a sede da mãe terra. É difícil sair da cama numa manhã de chuva fina. Como é aconchegante. Ah que preguiça gostosa. Isso me faz lembrar o sertão. Quando amanhecia chovendo, ninguém se atrevia sair de casa, salvo para ir ordenhar as vacas, quando isso era possível. Quando conseguia levantar, tomava um café simples com pão quentinho, ansioso para jogar conversa fora nos alpendres da vizinhança. E assim, a vida passa lentamente nos dias de inverno em nosso sertão. Um dia, quem sabe, vou voltar a sentir o cheiro da chuva. Não há perfume melhor.