O velhinho e a abóbora

Trabalhávamos nós, Agentes de Saúde, em bairro considerado "nobre", da cidade. No entanto, lá também encontramos em meio às belas casas e sobrados algumas edificações bem simples.

Em uma destas casas, bem antiga, de pintura gasta de cor esverdeada, encontramos um velhinho que, pelo traje, botinas e chapéu de palha, sugeria que estava "dando um trato" no quintal. O homem provavelmente nasceu e viveu boa parte da vida no campo. A própria casa do velhinho parecia um pedaço da roça inserido no "Alphaville" de minha pequena cidade.

Assim que entramos, notamos que o velhinho era gentil e gostava de uma boa conversa. Nos ofereceu café e mudas de plantas medicinais de seu quintal, a propósito, muito bem cuidado.

Era surpreendente! Cada pedaço de terra daquela humilde casinha era aproveitado: dois canteiros na área da frente com plantas medicinais, horta no quintal e canteiros nos corredores. Até mesmo os cantinhos de terra perto do muro eram plantados. Vistosas mudas de hortelã enfeitavam e perfumavam aqueles pequenos espaços.

Perto do término a vistoria, lá veio o velhinho, sorridente, pedir: "vem cá ver o tamanho 'das abobra' que eu colhi no quintal!". E lá fomos nós acompanhando-o até a parte coberta do corredor. Na mesa podíamos ver duas enormes! Ele mostrava orgulhoso aquelas abóboras e nos contou que plantou as sementes todas com bastante zelo, tempos atrás.

A gente percebia que cuidar das plantas era a felicidade do velhinho. Provavelmente aposentado, ele deixava transparecer naturalmente o prazer que tinha com a atividade. E buscava felicidade em coisas tão simples, mas tão importantes, como plantar e colher cebolinha num cantinho de terra da casa...

Aquele morador nos conquistou com sua simpatia e alegria de viver.