O Tempo - Pensamento para Fim de Ano

Era um dia normal, quando acordei e me olhei no espelho. Um estranho diante de mim, e o pior é que ele era eu.

Acariciando meu rosto, percebi algo estranho. Não sabia o que era, mas ainda assim sabia que era eu. Eu não entendia o porquê daqueles pêlos no rosto, e de certa forma, eu sabia que devia cortá-los. Não me sentia bem assim.

Lembrei que sempre guardava uma tesoura sem ponta na minha mochila escolar, mas procurei e não a encontrei de nenhuma forma. Eu só encontrei um monte de contas na minha gaveta preferida, e o pior de tudo é que eu precisava brincar para passar meu tempo e não encontrava os meus brinquedos! Fui brigar com minha mãe, mas tudo o que eu tinha como pista era o bilhete em cima de uma mesa que até então eu nunca tinha visto, e ele dizia: "Quando acordar, estarei ao seu lado, e se não estiver, espere até a noite. Te amo.".

Eu não entendia por que a minha mãe tinha me deixado sozinho, até então ela nunca fizera isso. Talvez eu tenha crescido um pouco, pensei.

Senti que estava precisando de um banho, quando percebi que o chuveiro estava parecendo menos distante da minha cabeça agora. Cheguei a pensar que minha mãe tivesse mudado ele de lugar para que eu pudesse me sentir melhor. Ela sabe o quanto eu ficava chateado com o fato do chuveiro e do registro serem muito altos para mim.

Terminei o banho e fui me trocar. Percebi que tudo a minha volta tinha mudado e não sabia onde estava. Fiquei confuso. Pela primeira vez na vida me senti um completo perdido nesse mundo. Sem saber onde estava, sem saber o que estava fazendo e sem saber como eu estava fazendo. Vou pegar uma roupa emprestada, resmunguei - odiava isso -.

Liguei a TV. Tentei achar os meus desenhos preferidos, mas só estavam passando uns sem graça e com um gráfico estranho! Os desenhos pareciam vida real. Nunca tinha visto isso na minha vida. Desliguei a TV e fui olhar para o meu relógio de parede, e incrivelmente ele estava lá. Fiquei observando as horas passarem. Adorava ficar contando as voltas do ponteiro.

Mais tarde, alguém abre a porta e ouço uma voz:

- Oi, Marcos, vejo que acordou! Que bom! Estava morrendo de saudade de você!

E eu disse:

- Você não é minha mãe!

Ela disse:

- É lógico que não! Sua mãe mora do outro lado da cidade! Eu sou sua esposa!

Demorou um bom tempo para ela me convencer... Ela me contou que todos os dias eu ficava olhando para o relógio e contando as horas, e que eu sempre dizia que o tempo nunca passava. Me contou que eu estava agindo como se estivesse em transe. Que eu ia aos lugares e não me importava com nada, nem mesmo com a rotina. Me contou que eu apenas sobrevivia.

Eu adorava contar as horas para que elas passassem rápido. Hoje, eu percebi que o tempo passou tão rápido que eu nem vi as horas passarem.