Sobre a margarina no pão e as relações humanas

Peguei-me, hoje, lembrando-me da minha mãe e de como ela nos corrigia, a mim e a meu irmão, quando passávamos muita margarina no pão. “Luiz, não é margarina com pão, é pão com margarina! Depois você reclama que as coisas acabaram!” O que ela queria dizer com isso? Que se nós, na ânsia de sentir o bastante gosto da margarina a deglutíssemos em grandes quantidades, logo ficaríamos sem este acompanhamento. Essas lembranças me suscitaram a seguinte indagação: não seria essa a grande essência das indagações humanas? A dicotomia entre estarmos preocupados no sugar o prazer momentâneo das várias margarinas que a vida nos apresenta a despeito do recipiente destas logo se esvaírem? E por que passávamos muita margarina no pão? Porque o que importava não era o “acompanhamento” da margarina, não era o sabor diferente que ela daria ao pão e sim o prazer de sentí-la , o prazer do sabor sobrepondo-se ao valor alimentar e vivificante do pão. Sabemos que o pão sem a margarina já é essencial por si só, a margarina sem o pão já não o é. No entanto, pão sem margarina ou qualquer outro tipo de acompanhamento é extremamente sem graça.Portanto, caros, quando refletirmos a vida devemos ter em mente as opções: com muita margarina, logo o pote se esvazia. Com pouca margarina o pão torna-se sem graça. Sábio mesmo era Saramago que disse pela boca de um dos seus personagens no livro “Jangada de Pedra”: “o homem é um animal inconsolável.”

Laanardi
Enviado por Laanardi em 15/12/2010
Reeditado em 19/12/2010
Código do texto: T2673197
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