CIDADE MARAVILHOSA

Sempre receei viajar para o Rio de Janeiro. As péssimas notícias diárias a respeito dos inúmeros assaltos seguidos de morte, dos arrastões e da violência gratuita era uma barreira quase intransponível ao meu desejo de visitar a chamada "Cidade Maravilhosa". Através da mídia, TV em especial, eu via algumas pessoas famosas caminhando no calçadão de Copacabana e ficava imaginando se elas estariam cobertas por seguranças ou sozinhas naquele ambiente que, provavelmente, em minhas perspectivas, era realmente perigoso.

Em diversas viagens que fiz houve conexões no Aeroporto Tom Jobim, o Galeão, em vários horários, e, enquanto aguardava o reembarque para o prosseguimento rumo ao meu destino, eu fazia malabarismos para avistar o vulto do Cristo Redentor no Corcovado, ou o Pão de Açúcar lado a lado com o Morro da Urca. Mas nunca tive esse privilégio, tornava-se impossível ver esses pontos turísticos cariocas de onde me encontrava. Isso me frustrava sobremaneira. Como meu coração ansiava tomar os bondinhos para o Pão de Açúcar e subir as escadarias que conduzem ao Corcovado. Contudo, o medo de andar por uma cidade conhecida pela brutalidade de traficantes e assaltantes refreava meus ânimos.

Eu entendia e aceitava que jamais ousaria ir ao Rio de Janeiro algum dia, mesmo já tendo viajado para outras metrópolis pelas quais caminhei sem assombros e onde nunca testemunhei o menor resquício de violência. Em Lisboa, por exemplo, andei de metrô, de comboio(é assim que eles chamam os trens) e passeei nos bondinhos elétricos que percorrem a capital portuguesa. De igual modo fiz em Buenos Aires, em meio às multidões que se precipitavam às carreiras para não perder o horário do trabalho. Nesses lugares, nos horários de pique, nunca presenciei nem fui vítima de qualquer tipo de violência, ainda que mínima. Mas, confesso, não arriscava andar pelas ruas do Rio com a mesma tranquilidade.

Contudo, eis que, como sói acontecer, o destino traça seus próprios trajetos e roteiros e a vida de todos nós segue os rumos inesperados e imprevisíveis que certamente nunca esperaríamos. A Cidade Maravilhosa estava nos planos de Deus para mim e só vim saber disso justamente quando a polícia carioca estava prestes a tomar o poder dos traficantes no complexo do Alemão. Explico: meses atrás inscrevi-me num concurso de crônicas patrocinado pelo Banco do Brasil, e tempos depois fui surpreendido com um e-mail comunicando que minha crônica tinha conquistado menção honrosa e o prêmio consistia de uma viagem ao Rio de Janeiro com acompanhante e todas as despesas pagas, incluindo os passeios ao lugares turísticos. Por lógica, vibrei fechando os olhos para o temor de outrora e me preparei para a viagem, que aconteceu de 27/11 a 01/12 2010. Jamais imaginei que iria gostar tanto de uma cidade como gostei do Rio de Janeiro.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 15/12/2010
Reeditado em 15/12/2010
Código do texto: T2672449
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