VOVÔ
V O V Õ
No Campanário, o silêncio das três da tarde.
O gato dorme no tapete gasto
O carro passa deixando um rasto de poeira e
Ronco e...novamente o silêncio.
Não há asfalto nem arranha-céus
Só poeira vermelha, o canavial, um riacho
Gelado(mesmo sob este sol calcinante) e Vovô.
Ele bate prego na cerca, ele faz pirão com
Farinha e peixe, ele canta cantigas antigas
Num violão desafinado, ele tem uma figura tristonha
E tem também todos os anos.
Na vitrola, poeira; na estante livros amarelentos;
Na janela uma paisagem preguiçosa e, lá bem ao
Longe: Vovô.
Vovô não tem netos. Nem mesmo foi casado.
Mas quando eu passo por perto, aceno um "adeus"
E grito: "como vai vovô?" , ele apenas sorri.
O gato se virou para o outro lado e...ainda dorme.
Pedro Gonzalez