Sabedoria

É comum entre todos nós a busca da cultura.

Ela distingue os homens; muitos gostam disto. Falam mais de uma língua, conhecem artes, são educados e polidos.

Sabedoria não. Ninguém se transforma em sábio através de livros, pinturas e semelhantes. Geralmente vem com a idade e a reflexão criteriosa e de contundente lógica matemática, expressão usada para definir o rigor da tão comentada lógica.

Escutei interessante relato verdadeiro. Um velho desembargador, conhecido quando ainda estava na ativa pelas decisões acertadas, viúvo e já bastante idoso, foi morar com a filha.

São contingências das quais não escapamos, se estamos com idade avançada. O velho magistrado, absolutamente íntegro das faculdades mentais e com boa saúde, não era de dar trabalho.

Tinha os seus hábitos, como todos nós. Gostava e gosta ainda, não morreu, de acordar bem cedo, beber meio copo de água pura apanhada numa fonte, pegar o jornal já entregue e ficar lendo as notícias.

Judiciosamente estava limpo, barba feita, e roupa caseira bem apresentável. Até hoje assim é. Mas morre de amores por uma velha camisa de malha de algodão, que não se encontra mais em boas condições. A filha já havia tentado transformar a velha camisa em pano de limpar chão azulejado.

Determinada manhã, sem estar como comumente andava pela casa, mas ainda de chinelos, bermuda velha, a camisa de malha com os furinhos e de barba ainda não feita, deu uma corrida na quitanda próxima e escolheu um bonito cacho de bananas-prata. Havia um jovem comprando algo, que ao ver o velho juiz foi até ele e anunciou que a banana estava paga. Ele agradeceu e zarpou para casa.

Contou a história. A horrorizada filha, mas dócil com o pai chamou a atenção.

- Mas pai, você não devia ter aceitado, você tem dinheiro, não é mendigo.

- Pois é, filha. E tiraria dele o prazer de ter ajudado um velho.

Sabedoria é assim.