Poema esplêndido de João Cabral
Os Jogos frutais, poema de João Cabral de Melo Neto foi lido ontem por mim pela primeira vez. Estava buscando as ditas coisas imensas e belas, quando caiu a noite, logo depositei na leitura para meu abastecimento onírico. O livro se abriu por acaso. Certo de que desejava os poemas como nascem jogados como dados. Hoje há algo de composição misteriosa, sendo uma dessas coisas que não devemos perder durante a vida. No momento em que se oferece imediatamente recebemos uma dimensão sublime; e é degrau acima da fantasia mágica. Certificamo-nos de que nenhum homem deveria morrer sem o ter lido e provado dessa variedade suntuária das frutas de Pernambuco, mesmo a milhares de quilômetros de distância.
Se Homero escreveu a Odisseia eu não sei. Pelo menos João Cabral de Melo Neto, sabemos, escreveu. Todo poema que fala corre o rio ao seu modo ritmado e há uma rima fina e única em seu tom.
Não deixem de ler, de recitar, e até cantar. Façam concurso para ver quem declama, canta melhor este admirável poema. Decretem que todo brasileiro deve ler uma vez ao ano. Pois, a alma ali está curada, sana, refeita de eternidade como a fruta pernambucana. Haverá uma hora do dia para se ler e entrar em contato com esse ambiente de fruto e atração hipnótica ao grande reino que dela se aproxima: “e tens o apelo da sapota e do sapoti, que dão morcego”. Após: “tens a aparência fácil, convidativa, de fruta com muito açúcar que dá formiga”. No segundo minuto após a leitura já não podemos mais ser os mesmos. Tanto poder há no poema.