ENCONTRO DAS ÁGUAS
Hoje, especificamente quero “falar” de um milagre: Um fenômeno da natureza conhecido pelos amazonenses como “pororoca” e famoso por sua exuberante beleza e capacidade de inspirar poetas. É o encontro das águas do Rio Amazonas com as do mar.
Presenciar esse acontecimento divino é algo realmente marcante e único, ainda que ocorra inúmeras outras e outras vezes. E eu, mero ser mortal, tive esse prazer, essa alegria e confesso que sou obrigada a dizer: ‘Sim, Deus realmente é brasileiro...’ e todas as vezes que as águas se encontram se tragando se envolvendo se extasiando... renova-se o milagre a olhos nus.
Ele é concreto, é visível, é maravilhoso... e numa manhã, ouvindo Jorge Aragão e Jorge Vercilo cantando a música “Encontro das águas”, lembrei-me da sensação que vivenciei ante toda essa magia, e num impulso, tomando de lápis e papel corri e registrei para não esquecer : “o amor é o encontro das águas...”, o encontro fluídico das mucosas, dos suores dos seres no ápice do desejo, no gosto de um beijo, no entrelaçar de corpos; o encontro de almas que se reconhecem e se amam além das eras e dos limites da razão; o amor de Deus na magia do rio penetrando o mar, e do mar por sua vez sugando o rio numa simbiótica e fremente dança... tudo é vida, tudo é autentico e essencial.
É impossível permanecer indiferente diante de tão rara beleza, e nessa manhã ouvindo a voz gostosa desses feras da música brasileira, fui, paulatinamente escrevendo... quisera eu conseguir transmitir para o papel o som, o ruído das águas namorando à luz do sol, assistidos por turistas e pescadores, pelas pessoas das mais comuns e diversas que poderiam ver...
E assim reflito: O amor é verdadeiramente o encontro das águas..., o encontro das águas... e o que é portanto o desamor? O deserto? O solo árido e seco? O tórrido e inclemete sol do sertão? A arribação? A escassez de vida, a fome, a dor? A ausência de Deus na vida dos homens?, porque já diziam nas escrituras sagradas que “Deus é amor” e quando desamamos, nos perdemos de Deus... Se nossas águas não se encontram há somente seca, febre e solidão... a solidão de um rio que teme se entregar para a imensidão desconhecida do mar; a solidão de um mar que não aprendeu receber doçura afável das águas do rio... Ah! Meu Deus! Meus olhos marejam águas nesse momento!...
Irene Cristina dos Santos Costa – Nina Costa, 14/12/2010