QUANDO A TRISTEZA É BOA!
:( "Há males que vem para o bem", repetia Luka, querendo se atirar do quinto andar, sentindo que a vida não valia a pena. "Depressiva!" Ela era agora um rótulo, parte daquela gente esquisita, as "doidas", gente que precisava de remédio, que diferente das outras pessoas, não aguentou o tranco de encarar o tédio, a vida sem graça, a rotina, e abraçou a desgraça.
Olhando o frasco de remédio em cima da mesa, ela prometeu a si mesma, que não tomaria uma pílula sequer, nem ligaria para o terapeuta recomendado pelo psiquiatra, o médico de loucos e lukas.
Culpou a sua mãe, pois por causa dela, Luka tinha nascido com defeito. Depois culpou a si mesma, culpou o mundo; daí jogou todas as pedras na vida; depois de várias recaídas, bebida e bebidas, foi aconselhada por uma amiga a pedir ajuda. Foi visitar os homens de branco, saiu de lá com uma receita tarja preta e um telefone no bolso.
Agora, precisava tomar uma decisão: o gás, a queda ou o remédio?
E foi pensando nisso que ela se deu conta de algo que nunca imaginara, toda aquela fase dela daria uma boa peça de teatro: Luka, a Louca! A depressiva suicida, em dúvida entre se curar ou se matar. Foi só pensar nisso, que achou graça da desgraça dela e começou a criar...
Concentrando-se em seu drama, ela imaginou a cena, a fala, e correu para o caderno, pegou a caneta e começou a escrever uma peça prontinha e quanto mais escrevia sobre a peça,mas refletia sobre a sua vida, sobre o que levara aquela personagem chamada Luka a pensar tanta bobagem, afinal, a vida era bonita,é bonita!
Na peça, ela contava tudo pelo que passara. Desde o momento em que fora diagnosticada, até o instante que compreendeu que a sua doença não era frescura e ao procurar pela cura, esbarrou no que queria, finalmente, fazer da sua vida: a arte!
Fim de cena! Todos aplaudem!
A peça é um tremendo sucesso. Percorre o Brasil, recebe vários prêmios.
Rende discussões, estudos sobre um assunto tão tabu sendo visto por outro ângulo: não seria a tristeza que desemboca em depressão, uma passagem necessária da vida, para alguns? Quem nunca ficou triste? Ser feliz o tempo todo é coisa de cinema!
É claro, refletiram os críticos, a autora não define bem em sua peça, as diferenças entre tristeza e depressão. Porém, ao levantar a discussão sobre o assunto, o público volta para casa mais leve, sem o peso de precisar ser alegre o tempo todo e sabendo que em caso de tristeza agúda ou depressão iniciada, buscar ajuda é o melhor remédio para perceber que essas fases da nossa jornada podem ser decisivas para nos mostrar como está a nossa vida e a direção que podemos tomar para o que vem em seguida.
Sim, é possível extrair bondade das coisas ruíns; assim como a tristeza pode ser, no final das contas e dos contos, uma coisa boa:)