Seja simplesmente você
Você se mira no espelho e vê refletida uma imagem estranha, mas que por outro lado conhece há muito tempo, o suficiente para esquecer a sua versão original e criar uma artificial. Então você para e constata que não se sente confortável consigo mesma por ter que fingir o tempo todo para satisfazer as expectativas da sociedade.
Talvez essa seja a hora de analisar se seus momentos particulares são de fato só seus. E como estar em perfeita harmonia com o outro sem consegui-la para si própria antes? E se o outro estiver com alguém completamente inventado? Seriam as regras da conquista? É quando ele descobre que você não é bem o que imaginava (isto lhe aprece familiar?).
Intimidade é estar a dois como se estivesse a sós. Mas como saber se você não se vê apenas em sua nudez anatômica ao invés de sua nudez total? Em tempos de cirurgias que tratam de esculpir os corpos, tem-se utilizado incansavelmente a maquiagem da personalidade. É o que chamo de plástica da alma: as pessoas estão tão preocupadas com a aparência que deixam escapar da memória o despir-se de si mesmas.
As fantasias fraudam seu conteúdo que pensam não agradar tanto quanto a embalagem, já que o pacote vem completo, com qualidades e defeitos. Enganam-se achando que aquelas lhes rendem mais admiração, pois são exatamente estas que fazem a diferença, as tornam mais interessantes, mais humanas. E humanização é o que está faltando na humanidade atualmente. A ausência de sentimentos mais calorosos tomam cada vez mais o espaço da cordialidade e compaixão (existe sentimento mais humano que este? colocar-se no lugar do próximo, bem típico dos ensinamentos bíblicos – não faça aos outros o que não queres que te façam – oriundos do 2º Mandamento do Grande Criador: ama a teu próximo como a ti mesmo).
Será que as pessoas não se dão conta de que ao mascararem suas características podem estar perdendo as mais marcantes, as mais encantadoras? De tanto desvirtuarem-se de si mesmas, acabam se transformando em outras pessoas. Fosse para melhor, menos mal, afinal todos queremos progredir. Embora saibamos que andar para frente é um dos movimentos mais antigos, nem sempre os fazemos, mesmo sendo esta uma prática bem simples.
Então para quê complicar se a vida é complexa demais para estar em constante desordem? A beleza do todo aparece devido à pluralidade das partes.