Carta a Rui Barbosa
DA HONESTIDADE DE RUI BARBOSA À OSTENTAÇÃO DE PEQUENOS VALORES – UMA CARTA AO MESTRE
Senhor Rui Barbosa, saudações.
Foi lá pelas bandas do Senado Federal carioca, em meados de 1914, que sua fala foi encerrada desta maneira:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Muito claro foi seu argumento sobre o crescimento de algumas atitudes que iam contra os princípios da, agora, idosa sociedade brasileira. Os homens tinham vergonha de serem honestos? Ria-se neste momento, então. Pois, acontece senhor Barbosa, que vocês eram felizes e não sabiam. Naquele tempo os homens tinham vergonha, mas ainda assim se permitiam à honestidade.
Hoje, passados mais de cem anos, as coisas mudaram bastante. A maldade dos homens atingiu um patamar tão grande que nós, cidadãos acuados e imbecilizados, não temos apenas vergonha. Adicionamos à vergonha uma pitada de medo. Isso mesmo Senhor Barbosa. A vergonha por si só é coisa ultrapassada.
E sabe por quê? Uma fatia gorda desta sociedade corrupta simplesmente dá por não tolerar outrora adjetivo tão prestimoso. Hoje, se o cidadão for honesto eles invadem sua casa, barbarizam sua família, roubam o que ele tem e depois matam o pobre do infeliz.
Vivemos no país da ostentação, os meios utilizados também já não tem muita importância, entende? O produto final é o que importa nessa indústria de poucos e invertidos valores. Já não se dá tanta credibilidade àquele que lutou durante toda uma vida e hoje só possui a honestidade para ostentar, isso era coisa da sua cabeça, caro Rui.
Em 1914, senhor Barbosa, o sujeito honesto era apenas taxado de otário, trouxa, e alguns outros adjetivos menos violentos, levando simplesmente à vergonha de sê-lo.
Estamos em pleno século XXI, e os adjetivos para a pessoas honestas apertaram o botão F5: agora ele é pilantra, safado, ordinário e por aí afora.
Pregar a honestidade atualmente se tornou uma profissão de risco. Tentar, então, impor a honestidade em certos setores é o mesmo que optar pelo suicídio.
Senhor Barbosa, você não sabe a saudade que nós temos dos tempos em que vocês somente sentiam vergonha por não serem honestos. Vocês eram felizes e não sabiam. Caminha solitário aquele tempo...
Saudações e abraços, senhor Barbosa, deste humilde escriba que vergonha na cara há muito já perdeu, na realidade o que eu tenho hoje é medo que descubram que sou honesto.