Saudades de mim 6. A mudança.
Depois de tantos anos trabalhando na mesma fazenda meu pai resolveu que era hora de mudarmos dalí e conseguiu um trabalho num sítio de uns portugueses lá no "sertão" de SãoPaulo, quase divisa com Mato Grosso, hoje Mato Grosso do sul. Os novos patrões de meu pai vieram nos buscar num caminhãozinho Ford, o que deixou meus irmãos e eu muito alegres pois nunca tinhamos andado de caminhão e não víamos a hora de partirmos para o novo lar, mais ansiados pela viagem do que pelo destino. Apesar da euforia da viagem foi muito triste ver nossa pequena mudança ser colocada na carroceria do caminhão, tão pouco, que ocupou metade da carroceria a outra metade ia as plantas de minha mãe em vasos e latas, mas o mais triste foi deixar o gato e o cachorro ao Deus dará, pois como a viagem ia ser longa meu pai disse que eles não suportariam. Não iriamos leva-los e pronto! Encerrou a questão. Que tristeza lá de cima do caminhão no meio da mudança ver o gato se lambendo na porta da casa vazia e o cachorro correndo atrás do caminhão tentando nos acompanhar ficando cada vez mais para trás até desistir e com certeza voltou para a casa sem entender o que acontecia. Eu ia rezando para que alguém na colônia se compadecesse e cuidasse deles, mas logo me conformei e comecei curtir a viagem. Foi uma viagem difícil pois logo no inicio começou a chover e nós tivemos que nos acomodar debaixo do encerado que cobria a mudança, o que era muito chato pois não víamos o movimento da estrada de terra vermelha e muitas vezes meu pai e os portugueses desciam para desatolar o caminhão que patinava na lama. Viajamos o dia todo e ao anoitecer chegamos na casa de meu avô que era vizinho dos portugueses, descemos do caminhão molhados, amarfanhados e famintos e muito tímidos pois uma família enorme veio ao nosso encontro felizes e curiosos, pois apesar de sermos parentes não nos conheciam ainda, eu nunca havia visto nenhum deles. Comemos e passamos a noite naquela casa enorme de paredes de barro e chão de terra batida, onde além de meu avô e a esposa dele a "nona" moravam lá tios, tias primos, um verdadeiro clã. No dia seguinte subimos no caminhão e seguimos para a nova casa que ficava bem perto do sítio de meu avô e que tristeza ao constatar que a casa além de ser de chão batido, as paredes eram de pau a pique construidas com toras de coqueiro com vãos enormes! Mas logo nos acostumamos com a casa, fizemos amizades com os primos e a molecada das redondezas, meu pai começou a trabalhar no cafezal, minha mãe roçou o quintal, plantou abóbora, batata docê, chuchú e mandioca e fez uma horta, meu pai até ganhou uma vaca leiteira dos portugueses, só que a vaca coitada, sofria de aftosa, dava tão pouco leite que meu pai desistiu de ordenha-la. E assim nos acostumamos com o novo lugar, novas pessoas, nova vida, vivida com obstinação, fé e a coragem dos que nada tem. Apesar de tudo tenho saudade daquele tempo, onde nossa maior ambição era ter o que comer todos os dias.