KALIL II

 
Depois de amanhã fará um mês que o Kalil morreu.

Liguei para o seu telefone: uma esperança que lá estivesse um parente dele. Tocou, tocou, ninguém atendeu.
 Kalil, você não está mais aí querido. Você nem tinha ninguém com e por você?
 
Kalil, meu lindo! Meu amigo, meu amigo bom, que saudade de você vivo e falante de bela e suave voz! Ai Kalil você virou terra ou pó! Onde você foi parar?


Eu não tive coragem de ir vê-lo morto, foi mais forte que eu. Mas agora, de repente lembrei e me indaguei “será que já se passaram muitos meses?”, e conferi que foi só há um mês atrás.


Meu querido amigo e colega da ENE, você é tão precioso pra mim. Mesmo doentinho como estava, você me passava tanta força! Que absurdo, não é? Mas é verdade, pois sempre que você conversava comigo ao telefone, ou nos nossos almoços mensais, a sua voz pronunciada calava todas as demais e todos os ouvidos se viravam pra você, escutando aquele som pausado e suave e, entre harmonias, dizia coisas importantes para todos os amigos te rodeando.

Quando, meses se acumulavam e eu telefonava pra você, você passava palavras de coragem, de confiança em novos tratamentos que o salvariam e a fé saia de sua alma e chegava até mim eu tinha fé também, porque você dizia.

Querido, espero que esta sua fé o tenha ajudado nos momentos últimos anunciando que não sararia mais. E suplico a Deus que não o tenha deixado sofrer dor ou temor.

E agora se seu corpo tenha virado natureza, e se ainda se dá conta disso, não dê importância. Você Natureza está aqui. Você sempre viverá nos nossos corações.

Ou se a morte não for nada do que não sabemos, e se ainda for possível voltar por aqui entre nós, e se o desejar pode vir, andar pelas ruas, entrar aqui em casa e mexer na casa, sentar-se na sala e relembrar o que era estar vivo.
Se vier em dia de sol poderá ver o pássaro azul voando alegre  em algazarra na varanda, ostentando a beleza das suas penas azuis.

Vai ver que lá no “céu” está cheio de pássaros azuis voando e soando os seus trinados