De Doidinho Para Doidinha

Olha, linda linda, não é a coisa mais bonita que eu já escrevi pra você, mas é tão sincera quanto. Quer dizer, nem tanto. Hoje eu me ancorei num balcão de bar da Augusta e bebi cerveja além da conta. Sim, forever alone. Vou ser sincero com você: eu não peguei ninguém. Mas foi cada olhada... hahaha você já viu essa comunidade no orkut? O baianinho da foto na janela do ônibus dando um sorriso marotíssimo. Tô tipo ele, agora. Sabia que eu sou neto de baiano? E que estou escrevendo isso dentro de um ônibus que está com as luzes apagadas e que a "Hundred Kisses" está no repeat? Já percebeu o quanto os motoristas afundam o pé no acelerador à essas horas? Estou com a bexiga cheia até o teto e não sei mais o que fazer pra acabar com essa agonia. Fico me revirando de um lado pro outro no banco. O cara aqui do lado está meio incomodado. Deve estar pensando que eu tô com um galho de urtiga enfiado no rabo hahaha. Momento tenso, o meu... Queria falar que amo você, mas não amo. Que é o amor, afinal? Transponho 3.000km com a minha imaginação e te trago para perto de mim. Se não é amor o sentimento capaz de fazer isso vá lá, então, use e abuse de neologismos e me traga uma palavra mais adequada, baby! Estou me sentindo meio mal por estar escrevendo sobre você só pra tentar não ficar em pé no banco e por o pinto pra fora da janela e mijar à 60 km/h. Isso me lembra algo que reclamei com você esses dias. Desse meu novo hábito de receber mensagens de madrugada de mulheres chapadas de pinga ou maconha. Troquei a música. Agora toca "I Want You". Tente adivinhar de quem. Então, como eu estava falando. Tentando falar, tá difícil aqui, parece que estou galopando no Grand Canyon. Caralho, isso aí de receber mensagem de madrugada é até bonitinho, mas sou orgulhoso demais pra achar bonitinho. Acho o cúmulo da faute de mieux mandar mensagem pra alguém quando se está no mais elevado nível etílico. E na sobriedade, cadê? Deveríamos todos ficar bêbados, daí a sinceridade imperaria no mundo e todos seríamos melhores e mais felizes. Mas essa sinceridade de bêbado não me encoraja a responder a mensagem com a mesma lambeção de saco pois eu fui o receptor não da sinceridade da pessoa, mas da covardia dela de reprimir falar as coisas sem alterações psíquicas. Porra, vou descer desse ônibus pra mijar, não agüento mais, gente, estou suando frio aqui hahahaha caralho. Baby, tá, entendo que eu sou doidinho, mas não tem como não ficar doidinho lembrando das suas pernas cruzadas e do seu pézinho suspenso no ar e não ficar intuído a começar beijando ele e depois indo parar embaixo do seu vestido florido. Do que estávamos falando? Ah, das missivistas notívagas e bêbadas que acham que eu sou uma espécie de estepe emocional que funciona 24 horas por dia. El Batman. Gotham City sendo observada em gotas que escorrem nos vidros empoeirados, desenhando ali seu caminho, seu úmido risco, me remetendo à filetes de sangue que escorrem da têmpora dos suicidas. Não ficou com ciúmes delas? Só tem ciúmes das... hahaha Você é malucadoidinha e tem uma cruzada de pernas que não me sai da cabeça, porra hahaha Cochilei e quase que desço no ponto errado, Cristo! Preciso parar de beber. Por que bebo? Por que preciso parar de? Depois eu quero continuar conversando sobre essa parada da volubilidade que as pessoas adquirem quando diluem seus medos sob os auspícios de bebidas e drogas. Por ora, estou sóbrio e já estou em casa e me perguntando quando é que eu vou te conhecer de verdade. Ah, cruzando as pernas consigo segurar melhor a vontade de mijar. E tchau!

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 11/12/2010
Código do texto: T2665953
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