Prosperando como as flores

À Dilma

Lidam com o Brasil como se ele fosse uma criança. Criancinha besta sempre necessitando de intérpretes e esses intérpretes se divertem omitindo as razões da miséria. Um povo sem leitura é um povo que não liga para interpretações, vive de facilidades projetadas para omissão. Comete o crime das ações rápidas sobre a injustiça de penas demoradas.

As imagens narradas são as mais paternalistas, as que exibem certa consciência poderosa sobre inúteis criancinhas expectadoras, inválidas no que diz respeito à capacidade reflexiva profunda. São múltiplas desgraças que se abatem sem interferência da relação entre causa e efeito. Para evitar juízo a fórmula das imagens narradas danifica a construção educacional em sua meta original que é a de construir um senso crítico profundo. Gera cruzadismo, fundamentalismo, fanatismo aliado a crença no inexplicável, esta última tão desejada pelas multidões sofridas, empobrece por fim a ciência.

Este Brasil sem voz nas diferenças permite a arrogância de uma minoria “redentora” - que muito embora divulgue a miséria humana -, oculta suas causas, lucrando com suas conseqüências. Lidera para demonstrar força de expressão. Depois das misérias cruciantes seguirá o curso paternal acalmando com novelas o espetáculo da vida mal compreendida.

Este é o Brasil sem livros. O Brasil do comedido mercado de livros. Dos escritores mal pagos. Das inteligências sacrificadas pelo pedantismo das Academias consagradas.

Ainda pouco o noticiário anunciou a morte do professor assassinado pelo aluno. A ilustre apresentadora comentou inabalável: temos que preparar nossos filhos para as frustrações da sociedade competitiva! Adulando a sociedade competitiva como sendo aquela para o qual devemos nos acostumar, e jamais aquela que devora, feito Cronos os seus filhos. Nem lhe passa pela cabeça a necessidade de humanização desses mercados exploradores de almas, donos da miséria seletiva. Tão acostumados à venda de solidariedade em campanhas que pretendem fortalecer a própria força, mediante um estado incompetente que nada faz para minorar o mal; exceto abrir uma brecha, que o estado corrupto cria, para fortalecer mecanismos de projeção. Seguindo sempre a fórmula cínica daquele rico que ao pretender doar, logo promove campanha de arrecadação.

A educação se esteia nesse cenário de mitos e mágicas, de informação segmentada, mas sempre unilateral. Todo fracasso lançado à concorrência da sorte, graças ao exílio no jogo das cruzinhas dos exames excludentes, será o fim. A sociedade hipnotizada pelas condições da sorte, sorte que maneja os resultados da riqueza abusa da boa-fé popular; pois sabe que a grande maioria poética de seus concidadãos, dispõe da crença de que seguimos prosperando com as flores.

Mas a vida carece de interpretação, exame acurado, antes que o vazio da sorte lance todos na megera escuridão da ignorância. Assim que permanecemos tão pobres, tão perdidos, tão devastados num país riquíssimo.

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