Recebo, diariamente, e-mails com pedido de ajuda, correntes ou orações. Outros tantos, dizendo que estou no lugar certo, que tudo que me acontece é para o bem, que as forças superiores sabem tudo que eu faço etc.
Bom, aos pedidos de ajuda eu respondo que já tenho várias pessoas a quem ajudo, inclusive na própria família e que, se eu adotar mais um orfanato, vou aca-bar pedindo ajuda para mim mesma. Aos correntistas peço que não me mandem correntes que eu tenha que arrastar (como os fantasmas) entre todos os amigos porque, assim como eu não gosto de recebê-las, imagino que os outros também não. Além do mais, se eu não as passar para 105 pessoas nos próximos 47 minutos, vou ter 13 anos de azar. Quanto às orações eu faço uma certa cerimônia porque esse mundo está precisando de orações. Escrevo uma oração no come-ço da semana e, nos outros dias, peço aos santos, com todo respeito, que copiem e colem. Agora o que eu não entendo é aqueles que dizem que tudo que nos acontece é para o nosso bem. Qual é o bem que pode advir de um escorregão numa casca de banana e uma perna quebrada? Já sei. O ortopedista deve ter pedido, às forças superiores, um aumento no salário, a fim de comprar os presentes de Natal da mulher dele que, esse ano, está mais exigente. Se eu não escorregasse, como ele ia conseguir dinheiro para poder comprá-los? De repente recebi essa iluminação e agora passei a compreender. Deu topada? É pro bem, do médico. Fez chapinha no cabelo e saiu careca do cabeleireiro? É para o bem do advogado que você vai ter que contratar para receber uma grana do salão e comprar aquela peruca loura dos seus sonhos. Uma vez loura, você conquistará aquele homem com o qual você sonha há meses e viverá feliz para sempre. E por aí vai. É só procurar a explicação que você logo acha. Sempre é para o bem de alguém, só que você, nem sempre, é a beneficiada. Deixa de ser egoísta, menina! Nem sempre será você a ganhadora.