O Terminal.
Estou esperando o tempo passar, vendo as pessoas passarem por mim, sempre os mesmos rostos que me são familiares, as mesmas pessoas, o mesmo horário...Risos altos incontidos pelas cervejas a mais, pelas piadas sem graça...Mulheres vulgares que se exibem, homens excitados que as observam, típico de sexta-feira à noite, e eu sem conseguir imaginar algo que me faça rir como eles, algo que me faça viver uma sexta-feira à noite.
Olho o relógio, as horas parecem não passar, o tempo rasteja...espero uma ligação que não vem, uma mensagem que não chega e o tempo passar...
O mundo caiu na cozinha do inferno hoje, o trânsito ficou caótico, nada anda nesse lugar, nem mesmo os ponteiros do relógio.
Deviam proibir o uso de celulares no terminal, afinal eu não preciso saber da vida alheia, não me interessa e o cara no telefone não fala; grita aos quatro cantos daqui e de além a fase terminal do câncer do pai... E o ponteiro não se mexe, ele continua gritando e os olhares se voltam para ele...O taxista reclama que ficou duas horas parado no congestionamento sem poder cobrar a corrida porque o taxi estava parado...O taxímetro correndo e o taxi parado como os ponteiros desse relógio infernal...
As reações humanas chocam, um casal se beija como se quisessem engolir um ao outro, crianças choram, mães limpam o nariz dos filhos nas blusas, idosos cospem no chão aquilo que conseguem retitrar parece do estômago...uma ânsia me vem à garaganta, respiro e continuo esperando o tempo passar.
Todos seguem seu caminho na sexta-feira à noite, uns sobem outros descem as escadas e eu permaneço parada, sentada e com minha vida nas mãos...o que seria de mim agora sem minha caneta!