É NATAL. O QUE FOI QUE ESQUECI MESMO ?
Para Brandina o natal era época de festa, comemoração. A semana que antecedia a data, era para lavar e passar todas as cortinas da casa, encerrar o assoalho e passar o pesado escovão para dar lustro.
Piso brilhando, cortinas cheirosas, agora era hora da matança, ia ao quintal e escolhia um porco, um cabrito, tres frangos, o pato sempre ficava em dúvida, pois ninguém da familia gostava muito dessa carne , mas tinha que ter.
Depois, era coloca-los todos na vinha d'alho, e ficar virando para que toda carne ficasse coberta pelo tempero e tomasse gosto. Quando as colocava no forno a lenha, os vizinhos sentiam o cheiro de longe, e salivavam de desejo.
No dia era aquela correria, arrumação da casa, retoques no pinheiro de natal, mesa impecável, e visitas chegando.
E depois sentar para a comilança, afinal deu tanto trabalho !
Não sabia Brandina, o que ocorria, mas todo ano era igual a sensação que sentia ao sentar-se à mesa. Sempre tinha a impressão que esquecera de algo. Passava em revista na memória, e tudo estava ali sobre a mesa bem posta.
Então o que seria ? Pensava ela.
Muitas Brandinas ainda estão pelo mundo, agindo assim nessa data.
Mudaram o foco. Hoje já não lavam e passam as cortinas, há as lavanderias a seco, para isso.
Já não precisam encerar o assoalho com cêra em pasta, de joelhos ao chão, e depois ainda passar o pesado escovão. Existem os pisos com brilho, que dispensam o enceramento.
Também, não vão ao quintal escolher os animais de criação, que serão mortos, e nem preparar os temperos, pois, os mercados vendem os perus já temperados.
Mas, a atenção das Brandinas atuais, está nos presentes para toda família, nas roupas de grife para usar na ceia e na refeição requintada para o almoço de natal.
Mas há uma semelhança, entre a Brandina antiga e a atual.
Ao sentar para degustar a refeição natalina, a Brandina de nossos tempos, também sente que esqueceu algo.
Passa em revista toda mesa à sua frente, e não consegue detectar o que falta !
E assim passa mais um natal.
Hoje pela manhã após a aula de ginástica, nosso grupo fez uma festinha de final de ano.
E nas conversas das colegas de aula, pude notar a preocupação de quase todas elas, com as compras de presentes ainda por fazer.
A preocupação se estendia ao cardápio, a preparação da casa para estar impecável, para receber os convidados.
E me dei conta mais uma vez, como nós humanidade confundimos essa data.
Ela deveria ser para nos impregnarmos de mais amor ao próximo, de mais solidariedade, fraternidade, PAZ !
Mas, o que assistimos, é uma correria geral, gerando um estresse imenso.
Para desembocar no dia da comemoração, com alguns familiares insatisfeitos com seus presentes. Outros mal suportando o ambiente que estão, mas afinal é natal e precisam estar ali.
Uma conhecida me contava que seu marido não suporta sua irmã, e no natal é a única data, que ambos abrem excecão e se encontram à mesa. Não se olham, nem trocam uma palavra. Mas, estão ali reunidos em volta da mesa de natal.
Comemorando a data símbolo do AMOR E DA PAZ !