Vaselina líquida...de quem é a culpa?
Há alguns dias estou sentindo uma indignação mórbida com relação ao óbito da criança que recebeu vaselina líquida intravenosa ao invés da solução fisiológica prescrita pelo médico.
Indignada com a imprensa que,sem saber,a todo momento bradava "erro médico", indignada com a estupidez da auxiliar de enfermagem que, num ato de pura irresponsabilidade deixou de lado uma regra básica que nós, profissionais da saúde ,não podemos JAMAIS nos esquecer: A REGRA DOS CINCO CERTOS quando formos administrar medicamentos:
- o medicamento CERTO
- o paciente CERTO
- a via de adminstração CERTA
- o dose CERTA
- o horário CERTO.
Isto nós aprendemos quando ainda estamos no bêabá da Enfermagem,esta tão nobre e digna profissão cujo mister maior é o compromisso com a vida e jamais com a morte.
Ao lado desta regra aprendemos também que :
- devemos ler o rótulo da medicação ao retirar o frasco do armário(ou onde ele estiver), ao colocá-lo sobre a bandeja onde vamos prepará-lo e quando formos prepará-lo.
- os vasilhames onde se alocam as medicações devem ser checados com frequência (obrigação do(a) Enfermeiro)(a) a fim de que não ocorram erros de estarem misturadas com outras diferentes e venham a gerar equívocos em situações emergenciais.
O que acontece com os auxiliares e técnicos de enfermagem que estão sendo lançados no mercado de trabalho numa velocidade maior do a da luz ?!
Sim! A velocidade é vertiginosa talvez pela pressa de auferirem lucros, se esquecem de colocar no currículo o BÁSICO e o NECESSÁRIO a fim de que tais atrocidades não sejam cometidas e, associado a isto, contamos com a negligência dos Enfermeiros graduados em Universidades.(NU) que assistem a tais descalabros e não tomam a devida providência cabível.
Vejamos o que diz o Código de Ética de Enfermagem no Capítulo III (Das Responsabilidades dos Enfermeiros)
Art.19 .Promover e/ou facilitar o aperfeiçoamento técnico, científico,e cultural do pessoal sob sua orientação e supervisão.
Art.20: Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais independentes de ter sido praticada individualmente ou em equipe.
Eu pergunto: quem são estas pessoas sob a orientação e supervisão dos Enfermeiros?
São os técnicos e os auxiliares.
Aqui eu abro um parênteses para perguntar a vocês:
- Existe alguma outra profissão além de Enfermagem que possua tantos patamares de profissionais?
Eu, que sou Enfermeira lhes respondo:Não! Não há!
Apenas em Enfermagem acontece isto (outra indignação minha). E era pior! Havia: atendentes, auxiliares e técnicos.Hoje os COFENs e os CORENs ainda suam para extinguir os atendentes e permanecerem apenas os auxiliares e os técnicos.
Uma coisa eu garanto, se Enfermagem fosso igual às demais profissões, admitindo-se apenas Enfermeiros (NU)
como são os odontólogos, médicos,engenheiros, etc, a coisa seria bem diferente...
Quem estaria respondendo pelo erro?
E ninguém nem ouviu falar quem era o (a) Enfermeiro(a) responsável pela equipe onde o erro ou os erros foram cometidos...
Claro que o Código de ética não se resume nisto mas ,
nestes dois artigos acima citados pode-se depreender que os auxiliares e técnicos de enfermagem estão, em serviço, sob a responsabilidade do Enfermeiro qua atua no setor.
A minha indignação é que em verdade não se trata de um erro médico nem apenas de uma auxiliar de enfermagem.
Trata-se de um erro de uma Equipe de Enfermagem.
Ainda que o médico tivesse prescrito a vaselina líquida na veia, Enfermagem TEM a obrigação de saber que a vaselina líquida é de uso apenas e exclusivamente tópico (na pele),em casos de pacientes acamados,como hidratante a fim de prevenir escaras ou úlceras de decúbito e na forma estéril no curativo de queimado.
Neste último caso nós utilizamos a gaze vaselinada que é esterilizada em caixas metálicas,no CME(Centro de Material e Esterilização) que são abertas por ocasião do curativo e nunca em frascos pois ao serem abertos sofrem contaminação.
A Equipe errou, e porquê?!
Porque ao serem admitidos os auxiliares e técnicos de enfermagem, a Coordenadora do Serviço de Enfermagem, errônamente chamada de "chefe" (quem tem chefe é índio), juntamente com os Enfermeiros responsáveis pelos diversos departamentos e Clínicas do Hospital, deveriam avaliá-los, fazer um diagnóstico das suas falhas e estabelecer, de imediato, um programa de Educação Continuada, para dar cumprimento ao Art 19.do capítulo III acima referido.
Isto é válido para todo e qualquer hospital do Brasil e do mundo.Creio que em poucos,pouquíssimos,isto aconteça.
O que vemos pelos hospitais são Enfermeiros delegando ações aos auxiliares e técnicos recém admitidos, sem ao menos saberem se estes correspondem às expectativas requeridas ao desempenho correto de tais ações.
Diante de tantas falhas só nos resta pedir a Deus que,em caso de sermos hospitalizados,possamos ter ao nosso lado um profissional preparado para que não partamos daqui nas mesmas condições da adolescente que recebeu a famigerada vaselina na veia.
Conversando com a minha filha que é médica em BSB,
anestesiologista, eu lhe perguntei:
- será que se nós adoecermos teremos que nos levantar do leito e ir preparar a nossa medicação?
Sim! porque deitados num leito de hospital, quando o Enfermeiro, auxiliar técnico...seja lá quem for, entrar com a bandeja de medicação,falando com uma tentativa de voz
amigável e inocente: - hora do remedinho....,nós não sabemos em verdade o que contém nas seringas e copinhos.
Diante disto, que Deus nos guarde a todos e nos acuda.
bjs,soninha