MARIA

 
Maria é uma mulher que vive o dia que tem pela frente e, ultimamente se deu conta, dos seus dias serem muito sem expressão. Tem vida interior tão vasta que o dia não dá tempo de fazer tudo desejado. Percebe que os dias passam sem palavras ditas ou ouvidas.

Interiormente tem tanta coisa a dizer. Há pouco menos de dois anos teve seus joelhos gritando o quão inadequadamente vem vivendo.  Já não podem nem caminhar até ao banco para pagar suas contas. Resolveu por tudo em débito automático, como solução adequada para não atrasar conta mensal nenhuma.

O que a deixou mais isolada, sedentária. Então escreve o que não pode falar a viva voz por não ter um ouvinte, uma defesa de sanidade. Melhor seria um papo de jogar conversa fora acompanhado de um chopinho e amigos.

Enquanto escreve não pensa e não vive.

Resolveu por uma música para ouvir. Escuta a composição do  compositor. É bonita, mas é nítida demais a nota do piano. Já os demais instrumentos fazem um som mais harmonioso e suave. Maria não entende nada de música, nem de muitas outras coisas. Vive mais de sua intuição melódica e inconsciente. É assim, quando gosta abusa. Quando não gosta ignora.

Maria escreve. Não tem perspectivas pela frente. Nem quer inventar histórias divertidas. Sente uma necessidade da verdade e do real. E o que é a sua verdade e o seu real?

Apóia os cotovelos na mesa e leva as mãos alisando os cabelos entre os dedos. Não pensa, sente os olhos querendo dizer tristeza. As pessoas são muito diferentes umas das outras.
 
Maria é irmã das coisas e seres e não tem nada determinado, vai acontecendo. É muito triste isso. Lembra de outros tempos em que vivia a vida que tinha, era alegre, tudo que fazia era com alegria e despreocupação.


E agora é uma mulher simples que, sequer sabe dizer a si mesma alguma coisa, alguma coisa alguma, que talvez deseje dizer