A DOR DA ESPERA
Dia após dia, cada vez mais as pernas vacilavam, os braços estendiam-se no vazio à procura de apoio. Em volta, nada de novo, somente a escuridão como companhia. Depois, o corpo cada vez com menos forças! As forças e o brilho a desaparecer do olhar...
- São os últimos dias da minha vida! - dizia-me ela, quando a visitava, por entre lágrimas de dor e de angústia.
- É o meu fim! - repetia incessantemente. Sabíamos que sim.
As lágrimas corriam-lhe pelo rosto crivado de rugas. As lágrimas corriam-me, igualmente, pelo rosto crivado de tristeza.
A cada dia que passava o seu estado degradava-se mais e mais. Os silêncios iam sendo cada vez maiores, já não fazia perguntas, as memórias estavam, algures, escondidas ou perdidas. A voz calava-se no silêncio das palavras. Já não havia sorrisos no seu rosto tão velhinho. Só sofrimento. Um sofrimento que me trespassava.
Pequenina, franzina, acabada. Depois veio o internamento. A cama de um hospital, o silêncio, o sofrimento. A espera dolorosa.
Não era a sua partida o que mais me doía, mas sim aquele sofrimento atroz. A dor. A espera. Já não havia palavras. Já não havia gestos. Já não havia carinhos e afagos que pudessem amenizar o seu sofrimento.
Inclinei-me sobre a cama onde permanecia imóvel. Afaguei-lhe o rosto. Acariciei-lhe os cabelos brancos. Orei, uma vez mais, com ela e já sem ela.... Vi seus olhos fecharem-se, pela última vez.
Eu só quero dizer-lhe que sempre a amarei, avó Maria!
Ana Flor do Lácio