A Grande Cena é Viver



Há virtude em tudo que fazemos por simples amizade. Nesta forma de amar somos todos virtuosos embora às vezes possamos agir como se pecadores fôssemos. Isto é, estamos em ambas as condições do ser, pecado e virtude, mas a nossa vida deve andar sempre a colher os frutos das nossas virtudes, isto é o resultado da virtude moderadora, a temperança, que nos mantém em equilíbrio dado-nos boas safras, boas colheitas.

Mas há que se saber que safra não é colheita. Pode-se ter uma excelente safra e uma péssima colheita. Porque a safra que não é trabalhada com sabedoria se desperdiça, não rende, e as perdas às vezes são tão grandes que nem compensa colher.

Mas se estamos todos empenhados em cumprir a missão de amar, temos que acreditar numa boa safra. Esta é uma boa safra? É. O amor sempre produz bons frutos, mas o que pode está a incomodar é a forma de colher, ou seja os frutos estão lá mas parece que não estamos conseguindo os implementos certos para a colheita.

Falta óleo para a colheitadeira? Vamos providenciar. Falta mão de obra para alavancar os motores? Vamos buscá-la. Falta armazéns para esperarmos um bom momento de comercialização, com a produção protegida contra o excesso de sol e umidade? Vamos construir pedra a pedra, tijolo a tijolo, cada um desses abrigos.

Mas se temos o amor necessário para estarmos numa condição de ser e estar na vida com abundância, fartura de tudo que necessitamos, o que nos faz amar o que amamos? Qual a cena da amizade, que nos apegamos tanto, que nos aproximou tanto e num dado momento parece estar lá no horizonte, dando-nos a impressão que está a nos escapar  a cada momento, ou que nunca esteve realmente ao nosso alcance?

Vamos buscar cada cena que nos apascentou a alma e tentar descobrir que imagens precisamos para continuarmos a sentir a intensidade das cenas poéticas, posto que amigos são seres especiais, supremos. Sim. Estão a viver e vivendo e assim vão escrevendo seus scripts nos versos que a vida permite viver lendo e ler vivendo.

Há tantos itens a considerar. Há tantas nomeações a fazer. Tem alguém no cenário da amizade isolado em solidão? Tem alguém preterido, menos valorizado, desqualificado na sua condição? Na verdade, na amizade boa, estão todos os atores devidamente envolvidos amados e acompanhados.

O que amamos nestas cenas e o que rejeitamos? Amamos estarmos bem, apoiados e protegidos uns com os outros. Rejeitamos o medo que sentimos destas sensações não serem reais, serem falsas, ilusórias, e ou, destas cenas serem um tão grande engano que nos leve o pouco, as migalhas, que anteriormente tínhamos. Já que todos tinham algumas coisas. Coisas essenciais que sempre tiveram, coisas que se acostumaram a ter. E ficamos em pânico pela idéia sequer de podermos, estar arriscando tal posse.

Mas  precisamos ter fé e acreditarmos em tudo que precisamos e podemos ter. E sabermos que a safra está farturenta mas precisamos saber receber esta dádiva com todas as instâncias da nossa alma. Acreditar na dádiva para sabermos como estender as mãos para recebê-la.

Mãos que afagam e que partilham ou mãos que tudo querem no movimento de fora para dentro,  sem deixar um grão que seja, um fruto que seja, uma esperança que seja. Porque as mãos que sabem receber precisam colher enquanto partilham, e partilhar enquanto colhem.

Portanto se as cenas na amizade boa, são favoráveis a compreensão, há partilha, há cumplicidade. As imagens mentais que estarão se formando terão que ser de confiança, temperança para que haja justiça nos quinhões destinados a cada parceiro.

É preciso humildade e pureza, para que o ideal seja casto e pujante, para que possam ser guardadas sementes na 'tuia' para novos plantios. Irmãos é preciso coragem, fortaleza no que somos em ideais e identidade material. Assim somos mesmo iguais, quando incompletos nos completamos, solitários, nos acompanhamos, e amados nos entregamos.

Nota da autora:
Esta crônica  de Ibernise está embasada:
. Nas '7 Virtudes' - Fé, Humildade, Castidade, Justiça, Amor, Fortaleza, Temperança.
. Fundamento teórico do objeto de amor freudiano, ou seja o amor objeto. O amor objeto é uma condição não altruísta de conceber o amor, que diverge do dogma cristão, mas explica a essencialidade do amor na base do desejo e das paixões humanas.

Ibernise

Barcelos (Portugal), 09DEZ2010
Núcleo Temático Filosófico.
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Ibernise
Enviado por Ibernise em 08/12/2010
Reeditado em 10/12/2010
Código do texto: T2661225
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