Um quase não texto
Recesso cerebral. Há momentos que entro em recesso: não quero pensar, não quero refletir, não quero ler nem escrever nada... Quero apenas respirar sem enviar nada aos neurôneos. É como se eu checasse, limpasse e lubrificasse cada conexão do cerebro.
Faço isto com um prazer imensurável, pois sou tomado pela certeza de que, após tal faxinação, produzirei coisas maiores e melhores.
Esta tecnica é-me inerente, mas independente. Vem quando quer, sem que eu a deseje ou a instale em mim.
Mas ela não se dá em silencio nem chega de repente. Tem uma trilha prenunciante, que é Frevo Mulher, de Zé, que cito abaixo.
Realizo tal ritual desde que me entendo por gente, embora não compreenda direito a utilidade.
Eis o som das sinapses cerebrais...
Quantos aqui ouvem
Os olhos eram de fé
Quantos elementos
Amam aquela mulher...
Quantos homens eram inverno
Outros verão
Outonos caindo secos
No solo da minha mão...
Gemeram entre cabeças
A ponta do esporão
A folha do não-me-toque
E o medo da solidão...
Veneno meu companheiro
Desata no cantador
E desemboca no primeiro
Açude do meu amor...
É quando o tempo sacode
A cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia
Procurando por um...