CAMINHO DE SANTIAGO
 

 


Recentemente um amigo foi a Santiago de Compostela. Daqui até a cidade do Porto, de avião, claro. Depois seguiu a pé, junto com um pequeno grupo. Na caminhada cada qual tinha um ritmo, por isso a maior parte do tempo ele andava sozinho. Levava uma garrafa de água, outra de vinho. Parava em botecos para comer alguma coisa e à noite se encontravam em determinados hospedarias. Tomava banho, lavava toda sua roupa e vestia a outra muda. Eram apenas duas. Jantava e dormia. Na manhã seguinte, a camisa ainda úmida ia tomando vento do lado de fora da mochila. Foram trezentos quilômetros percorridos em quatorze dias. Lá chegando ele disse que não seria capaz de dar mais dois passos... Mas deu, ao rodar pela cidade à noite, encontrando gente com quem tinha cruzado pelo caminho. E gente era o que não faltava naquele lugar!
 
Logicamente ficou impressionado com tudo o que viu e sentiu, mas isto é uma outra história. A primeira coisa que ele contou foi sobre o fumeiro. Na catedral, um enorme fumeiro – dizem ser o maior do mundo - que do alto balançava espalhando incenso no ar. E falou da sua origem em tempos idos. Assim que os peregrinos chegavam, os frades recebiam-nos para hospedagem no Mosteiro e lhes presenteavam com uma muda de roupa nova. As deles, sujíssimas e fedorentíssimas eram queimadas.
 
Até hoje a tradição da queima de roupas permanece e nas redondezas fica o lugar onde se pode ir para o ritual: jogar suas roupas imundas e suadas na fogueira.
 
Fiquei pensando que o ato tem duas utilidades práticas – além de eliminar a sujeira e possível proliferação de doenças, serve para, transformadas em cinzas, perfumar o ar onde multidões ininterruptamente se aglomeram.
 
E também tem o sentido simbólico. Quem vai até lá certamente é por motivos místicos. Depois do sacrifício, atingido o objetivo espiritual, sai totalmente renovado!
 
... Como se estivesse não somente de roupas alvas e cheirosas, mas também de alma limpa...
 
 


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