DOLOROSA PARÓDIA...

Outro dia, conversava com uns jovens a respeito da epidemia dos tóxicos, quando alguém lembrou certo trecho de uma canção do cantor Cazuza onde ele diz: "meus heróis morreram de overdose", numa clara referência aos grandes ídolos da música jovem que aderiram ao uso do tóxico e sucumbiram a ele: Janis Joplin, Jimi Hendrix e tantos e tantos outros que, de um modo ou de outro, acabaram se matando. A lista é enorme.

Alguns foram dependentes e conseguiram a cura; talvez por milagre, e porque nas décadas de 60 e 70, ainda não existia a Aids, porém depois, nas décadas seguintes...

Existia certa campanha que a televisão mostrou, há tempos, onde os quadros exibidos deixavam claro que o jovem pode "curtir" música, o esporte e tudo o mais sem precisar de "porcaria". Pode-se muito bem gostar de rock sem ser viciado em nenhuma droga. O verdadeiro prazer só existe na "cara limpa".

Não consigo entender que, parte da juventude por gostar deste ou daquele artista que faz uso e, por conseqüência, apologia da ilusão das drogas, ao invés de curtir apenas a música e repudiar seu comportamento, imitam tudo que seus ídolos de barro fazem, sem perceberem que estão se matando também.

Eu era fã - ainda sou - das músicas de Joplin, Hendrix, Bob Dylan, Beatles, Stevie Ray e muitos outros, contudo, sempre tive perfeita noção de até onde devia gostar deles...

Infelizmente, os entorpecentes ganham cada vez mais campo, enriquecendo os traficantes que, nos grandes centros, nas "altas rodas" vendem uma gota do terrível LSD por R$ 40,00, não se assustem, é isto mesmo, e a dose da mortífera heroína por R$200,00. Assim, com tal poder econômico, quem conseguirá algo contra?!

Concluindo, caso algum jovem venha ler esta crônica, lembro que: a polícia de Long Beach na Califórnia tem em seu poder o seguinte bilhete escrito por uma jovem:

- A rainha heroína é minha pastora, nada me faltará. Deitar-me faz na sarjeta, guia-me a águas conturbadas. Destrói a minha alma. Guia-me pelas veredas da impiedade, por amor do meu esforço. Sim, andarei pelo vale da pobreza e temerei todo o mal, pois tu, heroína, estás comigo; tua agulha e cápsula procuram consolar-me; privas minha mesa dos alimentos, na presença de minha família; furtas de minha cabeça a razão. Meu cálice de tristeza transborda. Certamente o vício me seguirá todos os dias da minha vida e habitarei na casa dos condenados para sempre...

No verso deste bilhete, uma dolorosa paródia do Salmo 23, há o seguinte pós-escrito:

- Este é, na verdade, o meu salmo. Sou uma jovem de 20 anos de idade, mas no último ano e meio tenho perambulado por uma estrada imunda. Quero abandonar as drogas; tento, mas não posso. A cadeia não me curou. Tampouco a hospitalização ajudou muito...

A médica disse a minha família que teria sido melhor e mais misericordioso se a pessoa que me induziu ao uso das drogas houvesse tomado de um revólver e explodido meus miolos. Quisera Deus que o houvesse feito!...

Após o bilhete daquela mísera jovem, a pergunta é:

- Vale a pena imitar heróis de barro...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 07/12/2010
Reeditado em 03/05/2011
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