De Gislaine para Valdinei
Todos os dias recebo uma mensagem de Gislaine para Valdinei. Gislaine tenta vender sabão para Valdinei. Tenta comercializar a idéia de que Valdinei é um grande cara capaz de se tornar explorador dos pólos. Ela sempre começa assim, procurando intimidade para lucrar com Valdinei. Com um “saiba Valdinei” e vai vendendo tudo o que lhe vem pela frente e até por trás.
Gislaine talvez fosse suportável se não me chamasse de Valdinei. Nunca disse a nenhuma pessoa que meu nome é Valdinei. Nunca escondi minha identidade de ninguém, talvez devesse, mas não, minha resignação é ser eu mesmo no mundo. O mesmo mundo em que vivemos. Mundo de Gislaines e Valdineis.
Aproveito agora para dizer a verdade. Embora sequer nos conheçamos. É como se tivéssemos dormido algum dia juntos, e assim, logo após as doçuras do platô, murmurasse no meu ouvido um “sabe Valdinei...” catastrófico. Imagino Gislaine tentando vender abóboras podres, criatura chata, mimada, porque insiste em me vender qualquer coisa que tenha em mente. Gislaine você é azucrinante devendo ser aquela criatura neurótica e de maus bofes. Dessas que levam os maridos ao suicídio ou pior a loucura.
Se alguém conhece uma Gislaine vendedora de fósforos via internet que salve meu desespero de “não ser” sequer um “Valdinei”. Diga-lhe que ela procure endereço num inferninho, tente vender encantos com alguém chamado Lúcifer. Na mesma proporção em que insiste em me ver como alguém meramente tolerante, passivo comprador de baboseiras.
...Se não desejo receber detalhes sobre este negócio? Lucro extra? Sei que esta época do ano é o ápice de todo gerente de marketing, mas se ao menos fosse chamado de Lula, Obama ou Chico. Não, três vezes não. Gislaine inventou Valdinei para zombar de mim. Sequer meu endereço faz parte do seu banco de dados para cancelamento, portanto continuarei sendo um Valdinei miserável.
Certo de que meu natal será triste, solitário, sem chester por causa da vocação literária, será ainda mais detestável receber um cartão de felicitações por parte de Gislaine. Sei que é perdoável, também não sou gravador de nomes próprios, porém prefiro não chamar Jupira de Jandira nem Mané de Zé. Nestes casos sou dado ao silêncio dos tímidos a estupidez dos ousados. Procuro o vazio da verdade dizendo: ó não lembro seu nome, criatura.
Mas estamos em dezembro, portanto solicito a Gislaine que suma da minha vida. Desapareça do e-mail diário antes do final de ano, pois é a primeira vez que mando embora de minha vida alguém que sequer conheço. Assim que... Se houver pensão e filhos desse caso conjugado, que pague o Valdinei.