VOLTEI SEM PATO DEPOIS DA CAÇA

VOLTEI SEM PATO DEPOIS DA CAÇA

A minha indiferença à oferta das parafernálias tecnológicas me faz viver livre de um celular. Pelo mesmo motivo, passo longe dos "êmepêdez", "êmepêonze" e similares, cintilantes nos balcões das lojas da cidade.

Meu walkman sobreviveu firme e forte até 2000 e o discman até 2005, quando perdeu a tampa e já não era possível utilizá-lo, após as malsucedidas tentativas de consertá-lo com elástico, durex, superbonder e durepox.

Há pouco mais de um ano, quando a moçada já circulava há tempos com seus celulares e ipods arrojados, fui pesquisar nas lojas o preço de um modesto MP3. Comprei um baratinho, de cinquenta reais, mas que fazia tudo o que eu precisava: tocava arquivos .mp3, .wav e gravava voz. O chaveirinho foi uma mão na roda para a gravação de diversos ensaios!

Há algumas semanas, o MP3 começou a "engastalhar". O display falhava e ficava ilegível. Hoje o bichão pifou de vez e nem as pilhas zero bala conseguiram reanimar o moribundo. Agora só lhe resta a tarefa de armazenar dados. Que triste fim para o MP3: virou um pendrive com botõezinhos...

Este ultimato dado pelo MP3 me fez ir às ruas pesquisar o preço de um novo. Foi aí que senti o sopro de um ar desolador em meu rosto. Nem o "cc" do vendedor, nem a falta de talento da vendedora, tampouco a falta de peruca de um dos gerentes; nada me abalou tanto quanto saber que loja alguma tinha MP3 no estoque!

Quando finalmente achei um disponível, o vendedor me apresentou o que eu considerei uma piada de mal gosto: um modelo de 512 mb da Britânia por absurdos R$ 179,00! Mostrei para o vendedor o meu MP3 (que estava na mochila) e informei que paguei R$ 50,00 naquele modelo há cerca de um ano.

Provavelmente todos os vendedores para quem implorei por um MP3 devem ter visto em mim uma espécie de "Fred Flintstone careca".

Voltei para casa frustrado, sem MP3 novo e sem comprar os MP4 que os vendedores tentavam me empurrar. Não me interessa ter uma encrenca com telinha colorida para vídeo. Além do mais, onde é que eu vou usar as minhas pilhas-palito recarregáveis? No controle da TV? Ora bolas...

Cheguei a cogitar a aquisição de um clássico portátil AM/FM ao invés de comprar um MP4. Estou pensando seriamente na possibilidade de criar tolerância de diplomata para acompanhar os programas de rádio, a oração das seis horas e os "Eduardo Costa" da vida. Arriscar perder a paciência, escutando "Calypso" até entrar em "colapso" (cuspindo duas vezes com o trocadilho) ou até dar uma bica no radinho.

Se você quer escutar um disco de vinil, encontra lugar que vende o aparelho, o vinil, as agulhas e até mesmo a espuminha para limpeza! Se você quer ler um livro, ainda por alguns anos terá chance de fazer uma pechincha em algum sebo e levar um título, mesmo com páginas amareladas, sem ter que se render a um e-book. Se quiser se divertir com um videogame antigo, basta comprar um Master System em alguma loja ou baixar para jogar no PC. Agora, se você quiser escutar MP3 na rua, é obrigado a gastar O DOBRO do que valeria um MP3 para adquirir um MP4, no mínimo e comprar uma geringonça com uma tela mixuruca que não cabe nem o Nelson Ned.

O pior é ter que se conformar e aceitar a máfia que aponta os dedos e determina o que vai permanecer e o que vai sumir das prateleiras das lojas. E para os senhores empresários e fabricantes que limaram os MP3, que enfiem os MP4, MP5, MP6 e o escambau em vossos respectivos e ordinários... cofres!

Gabriel, 01/12/2009