A FUNÇÃO DA FAMÍLIA.
Na sociedade moderna, todos têm uma função social; cada indivíduo deve primar pelas regras e pelos costumes.
A comunidade só será boa, quando parte dela estiver agregada aos seres que se respeitam e que lutam para que a igualdade impere sobre os interesses egoísticos.
Entretanto, a melhor e mais perfeita cédula da sociedade é a família. A união, através, do casamento, ou até em razão da simples sociedade de fato, tende a criar respeito, dissimulando bons exemplos que são repassados aos rebentos. Assim, família não tem qualquer relação com a forma que houve essa união, porque está intimamente ligada ao propósito de se viver em companhia de seres amados, de um jeito que as pessoas se respeitem, mesmo diante das diferenças inerentes a cada ser humano.
Essa família é composta de laços de afinidade que tendem criar mecanismos de suporte, já que o enlaçamento comum de gêneros distintos requer certo aprendizado, levando em consideração o ego de cada um, fazendo-se ajustes que possam suportar as diferenças e os conflitos. Entenda-se, por outro lado, que o dissenso não deve ultrapassar os limites do bom senso. As razões e as contrarrazões são meros ingredientes de discussão, mas há de serem transformadas em consenso no momento da decisão.
Há que se indagar então, como fazer com aqueles seres que nascem e que se criam sob a tutela dos mentores da família. A criança não pode ser criada próxima de um abismo, onde as contendas se desenvolvam costumeiramente. Esses gestos de intolerância geram a insegurança, pois, a prole enxerga o abismo, sentindo que a qualquer momento algum dos contendores irá despencar na ribanceira.
Os desafios são muitos numa família. Como educar, por exemplo, é a maior tarefa dos pais. A educação não é uma coisa que vem descrita em livros didáticos, muito embora existam obras que ensinam alguns caminhos e que são úteis para a retomada de decisões, quando o método empírico não consegue resolver a pendenga. Entretanto, mostrar o caminho certo a cada serzinho teimoso e cheio de egoísmo no seu interior, constitui-se muitas vezes num martírio, pois, cada pessoa é extremamente oposta em termos de personalidade.
O evangelho de Kardec, um dos postulados que explica muitos mistérios ocultos, ensina no seu Capítulo IV, § 19, uma questão deveras intrigante. Convenço-me da seguinte explicação sobre alguns seres que vem ao mundo e que muitas vezes temos a maior dificuldade para criá-los, no sentido de dar-lhes boa educação. Vejamos:
“A união e afeição que existem entre parentes são indícios da simpatia anterior que nos aproximou; também se diz falando de uma pessoa cujo caráter, gostos e inclinações não tem nenhuma semelhança com os seus parentes, que ela não é da família. Dizendo isso, se enuncia maior verdade do que se crê. Deus permite, nas famílias, essas encarnações espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo objetivo de servir de prova para alguns, e de meio de adiantamento para outros. Os maus se melhoram pouco a pouco ao contato dos bons e pelos cuidados que deles recebem; seu caráter se abranda, seus costumes se depuram e suas antipatias se apagam; é assim que se estabelece a fusão entre as diferentes categorias de espíritos, como ocorre na Terra, entre as raças e os povos”.
Para mim, esta aí nessa descrição de caráter transcendental a resposta para muitas indagações que surgem no meio popular, quando ninguém consegue explicação para alguém (tão ruim), pertencer à determinada família de conceito ilibado. Segundo a orientação acima citada, essa pessoa veio parar nessa família, a mando do Criador, para que se depure, vendo bons exemplos.
Chega a ser assustador quando percebemos que estamos sendo colocados à prova. Isso quer dizer, que aquela criaturinha não veio à toa para o aconchego de um lar. Ela está colocando em choque o procedimento e a forma de educar. Se a estrutura familiar falhar, com toda razão, esse ser não evoluirá. Ficará estagnado, ou no muito, voltará pior que antes.
Essa premissa indica que nossa responsabilidade como mentores do seio familiar é muito maior do que imaginamos. Por essa razão, nunca devemos descuidar da educação dos filhos. Temos de dar-lhe a atenção que necessitam. Temos de acompanhar seus passos. Temos de orientar-lhes nos seus conflitos; não para que ganhem a batalha, mas, para que a superem com responsabilidade e sem conseqüências para si próprias, ou para outrem.
Assim, acredito que a bandeira mais importante, na educação, é aquela em que escrevemos bem no seu centro a palavra: exemplo. Quando os pais são exemplares, não há porque ficar a se lamentar, quando um filho não sair exemplar. Quando os genitores se preocupam com seus rebentos, dando-lhe suporte nas suas aflições, não há porque lamentar-se quando um filho trilhar o mundo do crime. Nesses casos, quem falhou não foi você, como pai ou mãe, mas, sim a capacidade deteriorada do ser que você criou, já que ele, mesmo tendo todas as oportunidades para se recuperar, preferiu caminhar no caminho negro. O livre arbítrio cabe a cada pessoa e é única a responder por ele.