NA SOLIDÃO DAS MADRUGADAS...

 

 

Fim de mais um dia de trabalho, cansativo, interminável. Chegou a sua casa exausta, despiu-se colocou o roupão e preparou seu banho; banheira com água morna, alguns pingos de aromatizante e pedras coloridas relaxantes – sua amiga do escritório lhe dissera que era tiro e queda. Não havia homem que resistisse àquele perfume estonteante!

 

Colocou sua mais bela roupa íntima, para aquela ocasião especial; rendas delicadas, contrastando com o vermelho intenso, que a tornava ainda mais sensual. Penteou os cabelos, levemente ondulados, à altura dos ombros, prendendo-o em um dos lados, com uma flor vermelha, insinuante. Ele não iria resistir.

 

Era o grande amor de sua vida. Apaixonaram-se ao primeiro olhar. Ela vencera o medo, desde o naufrágio de seu casamento e percorreu um longo caminho até confiar em um homem novamente. Mas ele lhe dava a segurança que ela precisava. Por isso, aquelas noites eram tão especiais. Vivia a realidade de seus dias, à espera das noites em que eles se encontravam, para vivenciar o amor que cultivavam.

 

Colocou algumas gotas de seu perfume predileto atrás das orelhas, no colo, encheu numa caneca de café saboroso, fumegante e, cantarolando sua canção preferida, dirigiu-se ao seu ninho de amor. Era ali onde ela vivia as mais alucinantes experiências amorosas de sua vida, sempre tão mal sucedida nas paixões.

 

Postou-se diante do computador, seu cúmplice de todas as noites e madrugadas de amor virtual; ajeitou seu headphone, ligou a webcam, e preparou-se para mais uma noite, mergulhada em muita paixão e fantasias em companhia de seu amor. Ali, na solidão daquele quarto, ela era apenas mais uma das tantas almas anônimas solitárias que buscam uma razão de ser, nas madrugadas de ilusão.